Recife Frio, de Kléber Mendonça, revisto, reafirma suas qualidades. Kléber, que vai dirigir agora seu primeiro longa, acerta na fórmula de um falso documentário para TV, que noticia uma súbita queda na temperatura média do Recife. O que provoca uma série de mudanças de hábito. Desde a ocupação dos cômodos da casa, com os donos migrando para o quarto da empregada, em geral mais quente e sem ventilação, e as domésticas condenadas a viver nos agora frios dormitórios com vista para o mar. Até a alteração do artesanato nordestino, com suas casinhas agora dotadas de lareiras. O tom é irônico e leva o público ao riso. Mas aquele riso consciente de que muita coisa errada acontece nessa sociedade e numa cidade que, como todas as outras, está sendo depredada pela especulação imobiliária. Kléber filmou no Recife mas em outros lugares do mundo. A colagem de materiais é um recurso interessante do cinema, dependendo da maneira como é montada. Aqui, funcionou perfeitamente.