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Cinema, cultura & afins

Opinião|Rainha Margot

Sangue, sexo, intolerância religiosa, conspirações - tudo isso há em abundância em Rainha Margot (1994), épico histórico de Patrice Chéreau baseado no livro de Alexandre Dumas.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Isso significa que Margot resulta num filme empolgante, mesmo porque Chéreau não descuida de outro aspecto fundamental para um grande épico: o elenco. A estupenda Isabelle Adjani faz Margot, a "rainha devassa". A italiana Virna Lisi é Catarina de Médicis, mãe de Margot e de um clã masculino que se entredevora pelo poder. Vincent Perez vive La Môle, amante de Margot, e Daniel Auteuil faz o rei de Navarra, marido da rainha e futuro rei de França, Henrique 4º.

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Como pano de fundo, uma época de guerra de religiões, que culmina na Noite de São Bartolomeu, como ficou conhecido o massacre dos protestantes pelos católicos. Aconteceu entre 23 e 24 de agosto de 1572 e espalhou-se no interior do país nos dias seguintes. Calcula-se que 3 mil protestantes foram assassinados, apenas em Paris. Esse filme suntuoso sai agora em DVD, pela Versátil, em dois discos - um deles dedicado aos extras.

O que há de mais marcante é a intensidade que Chéreau dá na tela a essa história de violência e paixão. Os atores, em especial a Margot de Adjani, mas também seus irmãos, são como que possuídos por uma estranha força. O tom paroxístico se expressa também no registro fotográfico. A cor dominante é o vermelho do sangue e da pompa eclesiástica. Muda para o negro e para os tons escuros na figura soturna de Catarina de Médicis, uma figura do Mal, mas cheia de matizes.

Apesar desse tom, Rainha Margot é um filme que tenta dosar emoção e razão. Em virtude disso, foi acusado às vezes de carente de emoção. Ao lado dessa história cruenta e folhetinesca, procura fazer uma reflexão sobre o poder e, sobretudo, sobre os perigos da intolerância religiosa, o que traz aquele longínquo episódio histórico para a atualidade.

No longo depoimento que dá nos extras, em companhia da roteirista Danièlle Thompson, Patrice Chéreau diz que procurou filmar aquelas imagens do século 16 como se acontecessem hoje. De modo que Rainha Margot, apesar dos seus trajes de época e de uma Paris renascentista finamente reconstruída, bate na tela com todo o frescor, sem nada do ranço museológico comum no filme histórico. É um espetáculo para sentir, fruir e pensar.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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