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Opinião|Quase todos pretos...

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Amigos, olhem bem para as fotos da tragédia de ontem no morro do Alemão. Vendo-as, lembrei, sei bem por quê, da letra de Caetano Veloso em Tropicália 2. Pensem, sobretudo os que são contra cotas ou qualquer forma de integração ou reparo a agravos históricos.

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Quando você for convidado para subir no adro da Fundação Casa Jorge Amado pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos dando porrada na nuca de malandros pretos de ladrões mulatos e outros quase brancos tratados como pretos só para mostrar aos outros quase pretos (e são quase todos pretos) e aos quase brancos pobres como pretos como é que pretos, pobres e mulatos e quase brancos, quase pretos de tão pobres são tratados. E não importa se os olhos do mundo inteiro possam estar por um momento voltados para o largo onde os escravos eram castigados. E hoje um batuque, um batuque com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária em dia de parada e a grandeza épica de um povo em formação, nos atrai, nos deslumbra e estimula. Não importa nada: nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico, nem o disco de Paul Simon. Ninguém, ninguém é cidadão. Se você for ver a festa do Pelô e se você não for pense no Haiti reze pelo Haiti. O Haiti é aqui. o Haiti não é aqui.

De: "Haiti", CD Tropicália 2, 1993 Música: Gilberto Gil Letra: Caetano Veloso

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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