Luiz Zanin Oricchio
23 de maio de 2020 | 09h42
Talvez a divulgação do vídeo da reunião ministerial seja insuficiente para derrubar Bolsonaro. Sabemos que para o impeachment, no Brasil, são precisos um pretexto jurídico para desencadear o processo e condições políticas para efetivá-lo. Tal combinação parece não existir. Por enquanto.
Porém, creio que a divulgação autorizada por Celso de Mello foi um ato civilizatório. Ainda que doloroso, ainda que repulsivo, serve para expor, de maneira crua, de que material é feito este governo. Já sabíamos, claro, impossível não saber. Mas o vídeo apresenta uma espécie de concentrado de ignomínias, preconceitos, delírios e predisposições criminosas daqueles que governam. Um resumo da ópera, pode-se dizer assim.
Do presidente, ouvimos a confissão (já anteriormente divulgada) de interferência na PF. O que seria PF? Prato Feito, talvez? Ou Polícia Federal?
A ideia delirante de que é preciso armar a população para defender a democracia.
A admissão de que tem um serviço pessoal de informações, paralelo aos oficiais. “E o meu funciona”, orgulha-se.
A percepção de que o vírus é utilizado “por esse bosta de governador de São Paulo, por esse estrume de governador do Rio”.
O medo de que se a esquerda ganhar as próximas eleições, “vamos todos aqui ter de sair do país ou seremos presos”, tomando os outros por si.
Vimos o ministro da Educação querendo botar todos na cadeia, a começar pelo Supremo.
Vimos a ministra dos Direitos Humanos prometendo processar governadores e prefeitos. E denunciando que a esquerda queria promover um genocídio indígena para jogar a culpa no governo.
Vimos o ministro do Meio Ambiente, maquiavélico, dizendo que era hora de “passar a boiada”, mudando o regramento e simplificando normas ambientais, aproveitando que a imprensa estava distraída na cobertura da covid-19.
São essas as pessoas que governam um país de 210 milhões de habitantes. O nosso país.
Pensando bem, o que houve de menos obsceno na reunião ministerial foram os palavrões.