Em suas palavras, Debenedetti diz que tentou fazer jornalismo cultural sério, mas isso não era possível na Itália. O acesso aos figurões era restrito a uma panelinha e um novato, como ele, era sempre recusado. Ele então escreveu uma "entrevista" com o escritor norte-americano radicado na Itália Gore Vidal e a vendeu a um jornal. Era uma entrevista muito boa, embora Vidal jamais tivesse dirigido a palavra ao jornalista. E o diretor do jornal que a comprou disse que agora precisavam manter esse nível elevado. E assim foi feito.
A chave para abrir caminhos foi logo descoberta: "Percebi que o que interessava não era a cultura, mas os grandes nomes", diz. Ou seja, ninguém estava à procura de ideias, mas de grifes. Ou melhor, aspas de nomes famosos, na confiança de que os leitores não querem de fato novidades, mas mais do mesmo.
O repórter do El Pais pergunta a Debenedetti se os diretores dos jornais sabiam que eram falsas as entrevistas que publicavam. Ele dá a entender que sim. Sugeriam a ele direções para a entrevista: "Seria bom que ele falasse mal de Obama". Ou: "Faça com que ele fale bem de Berlusconi". Debenedetti obedecia. Entregava a pauta segundo a encomenda, seguindo à risca a expectativa dos clientes.
A ficção palatável em lugar do fato devidamente apurado; o culto às celebridades como chave universal que abre todas as portas na vida contemporânea; a pauta que já sai pronta da redação e se cumpre segundo o desejo dos editores.
Não está aí, nesse caso exemplar, toda uma lição às avessas de jornalismo?