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Cinema, cultura & afins

Opinião|A polêmica entre os produtores e os festivais

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Atualização:

O sindicato dos produtores de cinema abriu fogo contra os festivais brasileiros. Acha que existem festivais demais e que gastam muito dinheiro (R$ 70 milhões ao ano de incentivos fiscais), que seria melhor empregado na produção de filmes. O sindicato não quer acabar com os festivais, mas apenas selecionar os mais sólidos e com maior tradição, como os de Brasília, Gramado, Recife, Fortaleza, entre outros. O Fórum dos Festivais não deixou barato e, através do seu presidente, Antonio Leal, contra-atacou na mensagem abaixo. Leiam o documento e tirem suas próprias conclusões:

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POR Antonio Leal Diretor-Executivo do Fórum dos Festivais

O FÓRUM DOS FESTIVAIS (Fórum Nacional dos Organizadores de Festivais Audiovisuais Brasileiros) vem a público repudiar veementemente os termos da declaração do produtor Luiz Carlos Barreto sobre os festivais brasileiros de cinema.

Tal declaração demonstra uma completa falta de conhecimento do setor de festivais de cinema, que contribui vigorosamente para o processo de democratização do acesso da sociedade aos filmes nacionais, atraindo um público de mais de 2 milhões de espectadores ao ano. Mais do que 85% dos festivais realizam exibições sem cobrança de ingresso e, muitas vezes, são a única oportunidade de contato da população com a cinematografia brasileira. Há eventos que são realizados, inclusive, em cidades onde não há sala de cinema.

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São festivais com longo período de realização e respeitabilidade, como por exemplo os festivais de Brasília, Gramado, Rio, Anima Mundi, Guarnicê, Jornada da Bahia, Sesc de Melhores Filmes, Mostra do Audiovisual Paulista, Internacional de Curtas de SP, Internacional de Curtas do RJ, Internacional de Curtas de BH, Cine Ceará, Cine PE, Cuiabá, Florianópolis Audiovisual Mercosul, Festival Universitário, Vitória Cine Vídeo, Mostra de Tiradentes, dentre outros. Por outro lado, ocorre um franco crescimento de eventos que estão realizando as suas primeiras edições e que com a seriedade do trabalho estão conquistando público, parceiros e prestígio. São 132 festivais com presença em quase todos os estados brasileiros (exceto Roraima), inclusive em cidades ribeirinhas do Amazonas. Afinal, não fosse o festival, onde os ribeirinhos do Amazonas veriam os filmes brasileiros?

O circuito de festivais brasileiros cresce nacional e internacionalmente e possui inúmeros eventos acontecendo em pontos estratégicos do mundo, abrindo espaço para a difusão, promoção e a criação de um ambiente de negócios entre os produtores brasileiros e compradores estrangeiros. Neste contexto estão inseridos, o Festival de Paris, Miami,Nova Iorque, Brasil Plural, Barcelona, Toronto, dentre outros.

Torna-se importante destacar o grande número de representantes de festivais internacionais que vêm ao Brasil a cada ano (curadores de eventos do mundo inteiro) para conhecer a produção brasileira com vistas a programá-la no exterior. Além disso, os festivais nacionais recebem freqüentemente inúmeras solicitações sobre a indicação de títulos para festivais importantes como Cannes, Berlim, Los Angeles, Oberhausen. É um rico processo de intercâmbio que beneficia os produtores brasileiros.

Os festivais temáticos são estimuladores da produção e geram o surgimento de novos filmes: festivais de animação, infantil, ambiental, universitário, documentário, etnográfico, etc. Não há dúvidas que o Anima Mundi fez surgir um novo tempo para animação no Brasil.

Recente estudo realizado pelo Fórum dos Festivais, com apoio da Secretaria do Audiovisual do MinC, aponta que apenas 43% dos recursos captados pelos festivais são obtidos através da Lei Rouanet. Se os festivais são realizados parcialmente com recursos incentivados, é importante salientar que a quase totalidade dos filmes brasileiros são viabilizados através deste mecanismo. E graças aos festivais, boa parte da população consegue ter acesso aos filmes que ela mesmo financiou através do seu imposto de renda.

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Os recursos investidos por empresas nos festivais estão plenamente legitimados pelo público de milhões de espectadores, pela geração de empregos promovida pelo setor (6 mil empregos diretos - um dos maiores indicadores de empregabilidade da área cultural) e pelo papel social que desenvolvem . É uma postura cidadã. Os festivais no Brasil, ao contrário dos consagrados eventos que ocorrem pelo mundo afora (Berlim, Veneza, Cannes, etc) não se limitam a exibir filmes e atuar em promoção de imagem e de negócios. No Brasil, os festivais têm o compromisso de fazer a sociedade ver, discutir, refletir e aprender a fazer filmes. É, de novo, uma postura cidadã.

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O processo de crescimento de festivais é uma onda internacional. Quem acompanha o setor sabe disso. São dezenas de festivais na Argentina, centenas na França, outras centenas no Canadá e na Ásia, quase mil nos EUA e a cada semana surge um novo evento em algum ponto do planeta. Isso porque as cinematografias locais não conseguem ser vistas pelos seus cidadãos no circuito comercial. É a maneira que a sociedade encontrou para organizadamente responder à carência de espaços de exibição de filmes da sua nacionalidade. No Brasil, o circuito de festivais ainda tem muito a crescer e contribuir para que a população tenha condições de assistir aos filmes brasileiros em qualquer ponto do país.

Antonio Leal Diretor-Executivo do Fórum dos Festivais

No site www.forumdosfestivais.com.br está disponível a íntegra do estudo setorial dos Festivais Brasileiros de Cinema.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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