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Cinema, cultura & afins

Opinião|Polanski, exorcismo através de imagens

(Texto que acompanha a entrevista com Christopher Sandford, biógrafo de Polanski, feita por Ubiratan Brasil para o Caderno 2)

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Sempre é tentador fazer paralelos entre obra de vida de um artista. Em especial, quando se trata de alguém como Roman Polanski, cuja existência parece desconhecer águas mais calmas. Assim, basta assistir a seus dois longas de início de carreira, Faca n'Água (1962) e Repulsa ao Sexo (1965), para se convencer de que ali estava um artista disposto a explorar o seu meio de expressão da maneira a mais radical possível. Há quem os considere, não sem alguma razão, os melhores de sua carreira.

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De qualquer forma, viria muito mais no futuro. Bebê de Rosemary (1968) passa por um dos mais completos - e assustadores - filmes de suspense de todos os tempos. E, como não se envolver com aquela história da garota (Mia Farrow) ofertada pelo próprio marido (John Cassavetes) para gerar o filho do Mal? Tocado ele mesmo pelo mal, com o assassinato de sua mulher Sharon Tate, grávida de oito meses, por um bando de malucos, Polanski representar (ou tentou fazê-lo) a tragédia pessoal em sua sanguinolenta leitura de Macbeth (1971), a já bastante sinistra peça de William Shakespeare.

Em 1974, Polanski ressuscita o noir em seu brilhante Chinatown, drama dos mais envolventes, com Faye Dunaway e Jack Nicholson, e o próprio diretor em um pequeno papel. O terror psicológico, como ator e cineasta, viria reencontrá-lo em O Inquilino (1976), contracenando com a bela Isabelle Adjani. É um estudo sobre o medo, mas não sobre o medo ornamental, divertido, mas sobre o real pânico psicológico.

Nem tudo foi bom. Polanski também dirigiu alguns filmes menos bem sucedidos, como Lua de Fel (1993), baseado na obra de Pascal Bruckner, ou O Último Portal (1999), um tanto obscuro e pouco convincente. Mas reencontrou-se, com brilho, em O Pianista, memória dolorida dos campos de concentração e do gueto de Varsóvia, com um Adrien Brody notável no papel título.

Deve vir mais por aí, com o inédito Deus da Carnificina, que será exibido no Festival de Veneza (31 de agosto a 10 de setembro). Com um título desses, pode-se esperar o melhor (ou o mais terrível) desse fascinante exorcista de imagens.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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