Entendo a lógica da política.
Sou capaz de acompanhar o raciocínio de que a eleição para a prefeitura de São Paulo se tornou estratégica. Federalizou-se, segundo o jargão de quem entende das coisas. No local, joga-se o nacional.
Para o PT é fundamental vencer na cidade como parte da estratégia mais ampla de ganhar o Estado e assim acabar com uma hegemonia de 20 anos do PSDB.
Para este, trata-se de impedir o avanço de Lula e, baseado na rejeição da classe média paulistana ao ex-presidente e a tudo que ele representa, preservar esse bastião nacional do antipetismo. A entrada de Serra na disputa contra Haddad deve ser lida nesse contexto.
Então, é como se São Paulo, em si, não valesse grande coisa. Vale, e muito, como ponto estratégico, com vistas à definição do poder nacional.
É como se esse imenso desastre coletivo em forma de cidade fosse despersonalizado, tornado abstrato e coisas como a educação e a saúde deficitárias, moradia precária, poluição, enchentes, a especulação imobiliária, a extinção da vida comunitária, a violência cotidiana e o trânsito babilônico fossem dados de menor importância. Fala-se deles, claro, mas é como se não importassem de fato. Interessa o fato estratégico de que, quem domina a cidade, pode dominar o Estado e o País. E ponto final.
Pensei nisso voltando para casa num metrô abarrotado e sentindo pena dessas 11 milhões de pessoas que aqui se espremem sem ter quem olhe por elas.