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Opinião|Perfume exótico, para perturbar

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Atualização:

Fui ver em sessão da imprensa (jornalistas têm esse privilégio) o novo filme de Heitor Dhalia, O Cheiro do Ralo. Confesso que não gosto muito do filme anterior de Dhalia, Nina, baseado em Crime e Castigo de Dostoievski, que me pareceu muito afetado, visualmente. Por isso, fiquei surpreso com o novo trabalho dele. O Cheiro do Ralo, baseado em romance do underground Lourenço Mutarelli, acerta em cheio. E como? Radicalizando a linguagem para descrever um universo sórdido, mas tenso de tanta humanidade.

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Selton Mello é Lourenço, um crápula absoluto. Dono de uma loja de objetos usados, vive da exploração alheia: compra coisas de que está em estado de desespero por falta de grana. Lourenço tem uma obsessão: o derrière de uma garçonete que conhece num bar de quinta categoria.

O escritor Mutarelli faz no filme o papel de segurança da loja, instalada num espaço amplo e decadente, provavelmente uma fábrica abandonada. Os tipos que lá vão vender seus objetos compõem uma verdadeira fauna. E o cheiro que empesta o ambiente provém de um determinado ralo entupido no banheiro. Clima pesado e tudo isso é metáfora de uma profunda decadência humana. No entanto, o filme tem humor e até uma ponta de simpatia por personagem tão extravagante quanto esse agiota que ganha vida por um Selton Mello iluminado.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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