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Opinião|Paulistão em xeque *

Até que o clássico São Paulo x Corinthians foi bom, mas a rodada serviu para confirmar, se ainda isso fosse necessário, a falência da atual fórmula dos campeonatos estaduais, do Campeonato Paulista em particular.

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Digo isso sem qualquer satisfação. Diferentemente de alguns colegas e amigos queridos, não desejo, nem de longe, a extinção dos campeonatos regionais. Pelo contrário. Os de minha geração começaram a gostar do futebol através do campeonato regional. Entramos para o mundo do futebol pelo caminho do estadual. As nossas grandes rivalidades, nossas maiores alegrias e frustrações deviam-se a ele. As vitórias que mais contavam eram contra nossos rivais mais próximos. As derrotas que mais doíam, idem. Além disso, há o fator histórico. O Campeonato Paulista começou em 1902! Como desprezar essa antiguidade, essa tradição?

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Pois bem, exatamente por reconhecer a importância, todo o seu valor simbólico para a torcida é que não podemos concordar que seja disputado com esse tipo de fórmula estranha. Dezenove rodadas para decidir oito finalistas! É coisa demais, sem dúvida. Ocupa muitas datas, abriga times demais, atravanca o nosso tempo, o dos clubes e dos jogadores. Ninguém, em sã consciência, pode estar satisfeito. O público reage à sua maneira: abandonando os estádios. Mesmo times que dispõem de astros famosos sofrem com bilheterias minguadas. Todo mundo sabe que essa primeira fase de nada vale. Ou vale pouco para garantir o interesse da galera. De modo que as pessoas, sensatamente, guardam o sagrado dinheirinho para as próximas fases, quando aí sim os jogos se tornam decisivos e mais emocionantes.

Já temos um campeonato de pontos corridos, como o Brasileiro, que premia a regularidade. Deve continuar assim. É a fórmula sensata e justa. Entre outras qualidades, tem efeito pedagógico sobre os clubes. Eles aprendem que a falta de planejamento traz consequências terríveis e que não dá para remediar nada com atitudes de última hora e na base do desespero. Basta lembrar o que aconteceu com o Palmeiras ano passado. Bem, o exemplo não é feliz porque o Palestra parece indiferente a qualquer pedagogia. Mas, veja o Corinthians, de rebaixado a campeão do mundo, em trajetória meteórica.

Enfim, já basta que o nosso principal campeonato siga essa fórmula de disputa que, repito, é justa, racional e tem toda a razão de ser. Não é preciso que as outras sigam o mesmo figurino, mesmo quando o adotam apenas em parte como é o caso do Paulista. Nele, a racionalidade dos pontos corridos vira aberração. Vale apenas para a primeira fase, em que todos se enfrentam apenas uma vez. Já está comprovado que o público não engole essa fórmula. Resta que os cartolas se convençam. Mas isso é o mais difícil.

Craque em crise? Neymar voltou a marcar. E daí? Daí, nada. Todos sabíamos que voltaria a fazer gols, a jogar bem, a encantar. Os mais experientes sabem que mesmo os maiores, como Pelé, Gerson, Rivellino e outros atravessaram más fases. Depois voltaram a jogar bem. Craque não é máquina. Neymar, como todos, tem direito à sua má fase de vez em quando. Mas tem muita gente que lucra em promover tempestade em copo d'água.

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* Coluna originalmente publicada no Caderno de Esportes do Estadão

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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