Tanto é que seus versos têm sido estudados em outros países, inclusive na douta França, como o filme registra. Mas, no fundo, esses depoimentos têm apenas caráter ilustrativo. Indicam que a arte popular pode ser apreciada por pessoas de cultura mais, digamos, formal, mesmo que se expressem em outro idioma. Mas o que interessa de fato é a força da arte de Patativa e o diretor, nascido na região, tem a sabedoria de deixar que ela fale por si e disponha de tempo para se expressar.
Como documento, Patativa é bastante completo. Cariry busca as imagens do artista onde pôde encontrá-las. Há, claro, entrevistas que fez com ele, já velho, mas usa também trechos de Super-8, filmagens em 16 mm e 35 mm e até em vídeo. Esse ecletismo não cai mal a um filme que deseja destacar o caráter multifacetado do artista. Patativa foi um lírico, mas também um cantador antenado com seu tempo - e consciente das carências da sua região. Como aliás não poderia deixar de ser, nascido em família pobre e carente, numa casa de muitos irmão e pouca comida.
Nessa vertente, o documentário encontra seu caminho, sua opção ao interpretar a vida do homem. O Patativa que aqui surge tem, como se disse, muitas faces. Mas delas, a que mais sobressai é a face política. Como se o filme fizesse uma leitura de esquerda do personagem, viés que não deforma a sua trajetória. Patativa, de fato, sempre protestou contra a miséria de sua gente e chegou a fazer versos em prol da reforma agrária. Mas tudo isso seria inócuo não fosse a vivacidade dos seus versos. E é sempre essa força que imanta o filme, nos momentos políticos ou não.
(Caderno 2, 22/5/09)