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Opinião|Paris, eu Te Amo

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Para um filme composto por 18 episódios, Paris, eu te Amo parece até regular. Como acontece em quase todos os filmes de episódios, neste também existem os pontos altos e os menores. O que talvez mais atrapalhe a fluidez seja justamente o dado numérico. Os episódios são contos muito curtos; dos melhores, ficamos esperando mais, e dos piores, tememos que estejam tomando tempo dos outros. O conjunto fica assim um tanto fragmentário.

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A idéia é convocar um elenco de cineastas internacionais, e não apenas franceses, para dirigir histórias ambientadas em bairros parisienses. Entre eles, estão os brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas, que assinam Longe do 16° Distrito, um dos melhores do conjunto. É preciso saber que o 16°, Passy, é o bairro rico de Paris. É para lá que se dirige uma imigrante colombiana, que mora num subúrbio e deixa sozinho o filho pequeno para cuidar do filho da patroa. O filme é estruturado como o deslocamento de alguém que trabalha muito longe de casa e atravessa os diversos estratos sociais de uma cidade para chegar ao seu destino. As disparidades e as contradições se expõem aí, no trajeto, e na superposição das duas figuras maternas.

Gus van Sant dirige Le Marais, com o encontro insólito, misterioso, de dois jovens em uma galeria de arte no velho bairro do 4° distrito. Quais de Seine, de Gurinder Chadha, analisa a questão do relacionamento entre franceses e árabes quando um rapaz se encanta por uma mocinha com véu. Place des Victoires, de Nobuhiro Suwa, conta com a grande Juliette Binoche no papel de uma mãe que ouve o choro do seu filho morto e sai à rua à sua procura. Père Lachaise, de Wes Craven, faz uma original homenagem a Oscar Wilde, que está enterrado no famoso cemitério parisiense.

O mais charmoso é Quartier Latin, de Frédéric Auburtin e Gerard Depardieu, sobre o encontro de um velho casal americano (Gena Rowlands e Ben Gazzara). E, no episódio de fecho, e talvez o mais comovente deles, Alexander Payne mostra a turista americana que, finalmente, consegue realizar seu sonho de conhecer Paris. Talvez seja o que capte melhor a função que Paris ainda exerce no imaginário coletivo como cidade romântica, inteligente, sensual. Todos esses clichês estão presentes e, ao mesmo tempo, são desconstruídos.

(Estadão, Caderno 2, 7/7/07)

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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