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Opinião|Oscar 2010: talvez o melhor filme não ganhe nada

A disputa do Oscar 2010 virou uma espécie de Davi x Golias. Avatar, o gigante, já é o filme que mais arrecadou em toda a história (mas ainda não é o de maior público). Guerra ao Terror, o Davi da vez, passa muito longe disso. Apenas para ficar em números brasileiros: até agora Avatar teve 8,5 milhões de ingressos vendidos (cerca de R$ 96 milhões arrecadados) contra um público de 63 mil espectadores (pouco mais de R$ 600 mil) de Guerra ao Terror, segundo dados do Portal Filme B, especializado em mercado cinematográfico.

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Atualização:

A disparidade é enorme. Mas, talvez, como no relato bíblico, o menor derrote o maior. Os sinais já estão surgindo aqui e ali. O último deles foi a grande vitória que Guerra ao Terror infligiu sobre Avatar no Bafta, o prêmio do cinema inglês. No Oscar, talvez eles dividam os principais prêmios, mas o que talvez esteja pintando é que Avatar, antes de tudo um enorme prodígio da tecnologia, arrebate os prêmios técnicos, deixando escapar os prêmios "artísticos" para outros concorrentes, em especial Guerra ao Terror.

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São dois bons filmes. Nada excepcionais, para dizer a verdade. Pode, portanto, se dar neste Oscar o que já aconteceu tantas vezes na história da premiação da Academia, ou seja, que o melhor filme do ano fique sem reconhecimento. Refiro-me ao inteligente, surpreendente e inspirado filme dos irmãos Ethan e Joel Coen, Um Homem Sério, lançado modestamente a semana passada no Brasil. Com apenas duas indicações (filme e roteiro), o que fará esse nanico diante das nove indicações cada um que têm Avatar, de James Cameron, e Guerra ao Terror, de Kathryn Bigelow?

Provavelmente nada. No entanto, em termos de cinema, deixa os dois no chinelo. É o mais autobiográfico trabalho dos Coen e põe em cena um homem atormentado da comunidade judaica de Minnesota que consulta três rabinos quando seu mundo desaba. Uma bela comédia dramática, filme para rir - e pensar, atividade que, como se sabe, não dói, dá prazer e não tem contra-indicações. Mas cada vez menos o cinema comercial acredita nisso.

Boas apostas nas outras categorias são Carey Mulligan (Educação), como atriz, e Jeremy Renner (Guerra ao Terror) como ator. Morgan Freeman, como Mandela (em Invictus) também está no páreo. Christoph Waltz (Bastardos Inglórios) e Mo'nique (Preciosa) são os prováveis vencedores como coadjuvantes. E A Fita Branca, impressionante trabalho de Michael Haneke sobre as raízes do autoritarismo, parece não ter concorrentes na categoria de filme estrangeiro.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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