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Cinema, cultura & afins

Opinião|Os filmes do Chico Buarque

Três romances do vencedor do Prêmio Camões, Estorvo, Benjamin e Budapeste, foram adaptados para o cinema

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Jorge Perugorría em Estorvo Foto: Estadão

Chico Buarque acaba de ganhar o Prêmio Camões e precisamos lembrar que três dos seus romances viraram filmes. Estorvo, Benjamin e Budapeste ganharam as telas e são de muito boa qualidade, à altura do original literário.

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Eu diria, até, que o primeiro deles, Estorvo (2000), dirigido por Ruy Guerra, aprofunda o tratamento já radical dado por Chico à distopia urbana brasileira. Ruy, moçambicano e brasileiro desde os anos 1960, tornou-se um dos principais nomes do Cinema Novo, com filmes como Os Cafajestes e Os Fuzis. Nunca abdicou da radicalidade estética e a empregou a fundo nesse filme dos anos 2000, que já prefigurava o buraco negro em que o país parecia se meter (e em que acabou se metendo mesmo).

Ruy deve estar bem feliz; é amigo e parceiro de Chico. São autores da peça Calabar, proibida pelo governo militar e que mereceria ser encenada hoje, quando a delação anda em alta na "ética" governamental da Terra Brasilis.

De qualquer forma, em Estorvo, o personagem principal (interpretado pelo cubano Jorge Perugorría, de Morango e Chocolate) move-se como um fantasma num mundo que não é mais o seu. Tem sua propriedade invadida e...Bem, vejam o filme, de tom notadamente kafkiano (de Franz Kafka e não Kafta, por favor).

Em Benjamin (2004), de Monique Gardenberg, o protagonista é Paulo José. A história atravessa vários tempos, com uma história de amor interrompida pela ditadura militar.

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Budapeste (2009), de Walter Carvalho, põe em cena o ghost writer José Costa (Leonardo Medeiros), que à certa altura da vida se vê dividido entre Brasil e Hungria, dois idiomas (o português e o húngaro) e a esposa brasileira e a misteriosa Kriszta (Gabriella Hámori), que ele conhece em Budapeste. O virtuosismo de Carvalho vai ao encontro da elaborada prosa de Chico Buarque.

São filmes a serem revistos. Num apanhado geral, parecem refletir a evolução da arte de Chico Buarque, em que o realismo cede lugar a paradoxos de tempos e linguagens, propondo uma relação lúdica e aberta com o leitor/espectador, e sem por isso deixar de ser crítica. Au contraire. 

Seu romance mais recente, O Irmão Alemão, clama por uma versão em cinema. 

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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