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Opinião|'Os Campos Voltarão', a dor infinita de Ermanno Olmi

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Fui reverOs Campos Voltarão, de Ermanno Olmi, que já havia assistido na Mostra do ano passado.

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Um parêntese: pelo menos para mim, filme que se vê em maratona costuma deixar apenas uma vaga lembrança (há exceções). Do mesmo jeito daquele cara que havia praticado leitura dinâmica e devorado Guerra e Paz, de Tolstoi, em pouco mais de duas horas. Quando lhe perguntaram sobre o que era o livro, respondeu: "Sobre a guerra e sobre a paz". Mais ou menos assim estava eu sobre o filme de Olmi, que estreia semana que vem. Era sobre o horror da guerra e o ambiente, uma montanha nevada.

Revisto, posso garantir, poucos filmes antibelicistas têm a intensidade desta que, não hesito dizer, se trata de uma obra-prima do diretor italiano de Árvore dos Tamancos e tantos outros grandes filmes. Livremente inspirado no livro La Paura (O Medo), de Federico de Roberto, ambienta-se nas trincheiras da 1ª Guerra Mundial, no Altopiano di Asiago, onde ele vive. Aliás, o filme é dedicado por Olmi a seu pai, "que viveu a guerra quando criança e me contava sempre histórias sobre ela".

Um grande filme é um todo e mais algumas cenas marcantes. O conjunto e o detalhe. Impossível, por exemplo, esquecer o soldado que entoa suas tristes canções napolitanas no frio da noite, ouvido tanto pelos companheiros quanto pelos inimigos. Todos encastelados naquela angustiante espera da "guerra das trincheiras", como já foi definida a 1ª Guerra.

No todo, é um filme de espera, de soldados à mercê de um clima hostil e cercados de inimigos, enfrentando, também, ordens absurdas do alto comando. Essa paralisia, o combate que não vem, ou vem aos espasmos, produz um crescendo de medo. Sentimento que também precisa ser combatido, num ambiente gélido, no espaço fechado e claustrofóbico da trincheira, entre feridos graves, homens famintos e já com pouca esperança de voltar para casa.

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E há a reflexão de um deles de que, chegada a primavera e o verão, os campos, agora nevados, voltarão a florir e tudo será esquecido. Eles, seus sofrimentos e esperanças, tudo será coberto por outro manto branco, o do esquecimento. É de uma beleza fria, e terrível.

 

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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