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Cinema, cultura & afins

Opinião|Olhar de Cinema 2018: Djon África

O Olhar de Cinema, em sua 7ª edição, a se realizar entre 6 e 14 de junho, promete 150 filmes de 46 países. Essa é a vocação pluralista do festival curitibano, diversificado porém com ênfase no cinema de autor.O evento começou ontem com a exibição do português Djon, África

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Atualização:

Miguel em busca de suas raízes Foto: Estadão

 

CURITIBA

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O Olhar de Cinema, em sua 7ª edição, a se realizar entre 6 e 14 de junho, promete 150 filmes de 46 países. Essa é a vocação pluralista do festival curitibano, diversificado porém com ênfase no cinema de autor.

O evento começou ontem com a exibição do português Djon, África, da dupla Filipa Reis e João Miller Guerra. O longa, que já passou por alguns importantes festivais do mundo, como o de Roterdã, é daqueles que não dão bola para a distinção rígida entre documentário e ficção. Formas e gêneros estão aí para interagir e os teóricos que se lasquem para explicar os bichos híbridos que saem dessa mistura. O cinema vai se fazendo.

O filme acompanha a viagem de Miguel Moreira (também conhecido como Tibars ou Djon África) a Cabo Verde, terra de seu pai. Pai, aliás, que ele nunca conheceu. O rapaz namora uma moça em Lisboa, e deixa tudo para trás nessa viagem iniciática ao arquipélago natal de Cesárea Évora.

É um filme de descobertas. Djon meio que se descobre um estrangeiro onde quer que vá, inclusive na terra onde busca suas raízes mais profundas, africanas. Mas, nessa trilha de revelações, umas prazerosas, outras menos, ele vai conseguindo delimitar seu lugar no mundo, e isso de maneira inesperada e imprecisa.

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O tom da narrativa é um tanto poroso, como costumam ser nessas obras contemporâneas de autodescoberta. Nelas, a viagem é a situação que mais se presta a representar um certo status do ser humano contemporâneo, globalizado, sem centro, em casa em todos lugares e em nenhum deles. Ainda mais, como no caso de Miguel/Djon, quando esse alguém anda em busca de suas "raízes", hipostasiadas na figura do pai desaparecido.

Há como uma dissintonia entre o envolvente ambiente social de Cabo Verde, com sua sensualidade, música e cores, e esse personagem que nos parece sempre francamente deslocado. Cabe essa nota dissonante para uma obra que é feérica numa camada e melancólica noutra. Uma mistura interessante para um tempo de paradoxos existenciais como o nosso. 

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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