PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Cinema, cultura & afins

Opinião|O Sal da Terra

Em O Sal da Terra, o diretor paranaense Eloi Pires Ferreira pretende fazer um filme religioso - talvez no sentido amplo do termo, apesar da referência católica ser a mais forte. É uma ideia em princípio boa, a do padre caminhoneiro e sua igreja ambulante, perambulando pelas estradas e levando conforto aos profissionais do volante.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

As ações concentram-se em dois personagens, o padre Miguel (Edson Rocha) e o caminhoneiro Romeu (Enéas Lour). Cabe a Romeu encarnar os dramas da profissão - a ausência prolongada de casa, os perigos da estrada, as tentações do caminho, um perigo espreitando a cada curva. Miguel, ele próprio, vive um drama pessoal mas procura levar a palavra ao seu rebanho.

PUBLICIDADE

Tudo é apegado à realidade, pois de fato existe uma Pastoral Rodoviária, a vida dos caminhoneiros é aquela mesma e a estética segue o caminho realista. Um elemento intrigante, um andarilho, coloca nota dissonante nessa trama. E o todo é construído sob a forma ritual de uma missa. Essas propostas superpostas não parecem se articular muito bem.

Pelo menos é a impressão que se tem desse filme correto, mas que poderia ter ousado mais. Um padre mais tocado pelo desacerto do mundo e pelo desconcerto diante de si mesmo traria uma força que, aí sim, poderia ser iluminadora. Ambicionando voar pela transcendência, O Sal da Terra é apenas edificante e não chega a tirar os pés do chão.

(Caderno 2, 19/3/09)

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.