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Cinema, cultura & afins

Opinião|O Pequeno Príncipe e outras estreias

O Pequeno Príncipe, baseado na obra de Antoine de St. Exupéry, é a estreia mais popular. A melhor é o israelense O Julgamento de Viviane Amsalem, um estudo sobre a opressão das mulheres na sociedade religiosa patriarcal

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
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 Foto: Estadão

O Pequeno Príncipe, de Mark Osborne. O livro de Antoine de St. Exupéry ficou meio estigmatizado por ser o preferido de dez entre dez misses. Portanto, há que remover todo esse entulho de preconceito para voltar a essa obra singela e cheia de fantasia do escritor e aviador francês (1900-1944). De certa forma, o desenho animado de Osborne faz isso. Mescla a história original a outra, digamos, mais "realista". Uma garotinha é sobrecarregada de tarefas pela mãe zelosa porque passar por um concurso para entrar numa escola famosa. Ao seu lado mora um velhinho excêntrico, ex-aviador. Através dele, a menina é introduzida no universo da fantasia e...adivinhe, do Pequeno Príncipe. O desenho é muito bonito e escapa à mesmice da Disney. Talvez seja "europeu" demais. A mensagem, de que vale o afeto e não as ambições e as vaidades do mundo material, é mais do que contemporânea. Há quem ache ingênuo. É apenas bonito, embora o filme não esteja isento de certa pieguice.

O Julgamento de Viviane Amsalem Foto: Estadão

O Julgamento de Viviane Amsalem, de Ronit Elkabetz e Shlomi Elkabetz. Marido e mulher dirigem e interpretam este drama do patriarcado israelense. Na verdade, um drama de tribunal. Mulher deixou a casa e pede divórcio ao marido. Este se recusa a concedê-lo. O tribunal é religioso, formado por três rabinos, e estes nada podem contra a vontade soberana do marido. O caso se arrasta por cinco anos e só termina quando a esposa atende a uma exigência do marido. O longa é todo filmado em um cenário único, o tribunal. O clima é sufocante. Aos poucos, audiência após audiência, as razões de todos vão surgindo. Mas o que vai se formando de verdade é um ameaçador pano de fundo machista, em que a mulher é refém das vontades do marido. É julgada por homens e, mesmo as mulheres que comparecem como testemunhas, parecem contaminadas pela cultura patriarcal. Belo filme. Duro, incisivo, tocante.

 Foto: Estadão

Hipóteses para o Amor e a Verdade, de Rodolfo García Vázquez. Em seu primeiro trabalho para o cinema, o grupo teatral Satyros investe no tema mais paulistano que existe - a solidão dos habitantes da metrópole. Através de uma série de personagens, mostra como as pessoas sobrevivem na selva de pedra em busca de alguma atenção, prazer, carinho ou uma mísera migalha de reconhecimento. As personagens variam, desde uma prostituta em estado avançado de gravidez até o suicida que procura desesperado por alguém que o faça desistir do gesto final. Não menos patético é o rapaz, hostilizado na firma em que trabalha, e que procura alguém para partilhar suas tristes férias, planejadas por três anos. O longa tem bons momentos, mas algumas das histórias não encaixam entre si. Umas são melhores do que outras, o que é comum em filmes corais. Em suma, bastante irregular, mas respirando humanidade, mesmo onde o pensamento preconceituoso não supõe que ela exista.

 Foto: Estadão

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O Último Cine Drive-in, de Iberê Carvalho. Participou do recém-encerrado Festival de Gramado e recebeu três prêmios. Filme simpático, talvez supervalorizado, mescla drama familiar a ode ao cinema, inspirado em Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore. Othon Bastos é proprietário do Cine Drive-in de Brasília, prestes a fechar por falta de frequentadores. A mulher de Othon está no hospital, em fase terminal de câncer. O filho Marlonbrando (Breno Nina, melhor ator em Gramado) decide proporcionar uma última alegria à mãe, sob a forma de uma triunfal sessão no Cine Drive-in. O filme do Distrito Federal tem aquele frescor e simpatia das causas perdidas, mas não esconde certa ingenuidade. É possível que hoje, diante deste mundo complexo e assustador, as pessoas estejam mesmo buscando sentimentos simples. Daí o bom diálogo que este longa despojado vem conseguido com as plateias. Ganhou o Prêmio da Crítica em Gramado.

 

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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