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Opinião|'O Passado' é a principal estreia

 

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
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Boas estreias nesta semana. Entre elas, a principal, na visão deste escriba, é O Passado, de Asghar Farhadi, o iraniano de A Separação. Desta vez, a história se passa na França. Um homem, iraniano, volta à França para consumar seu divórcio com a mulher, francesa, que ele deixou quatro anos atrás. Ela(Bérénice Bejo) quer se casar de novo, com um homem que já tem uma filha e cuja esposa está em coma. Como acontece nos filmes de Farhadi, a complexidade da relação familiar vai sendo desvendada aos poucos. Nem sempre o espectador entende de imediato a razão da agressividade entre os personagens, nem por que se sentem tão culpados uns em relação aos outros, etc. Tudo é muito sutil, tudo é muito intenso nesse filme que fala de muitas coisas, entre elas dos casamentos interétnicos na França. A cena final é da ordem do sublime. Mas um sublime duro, difícil de assimilar e misterioso. Claro, vamos voltar a esse filme de maneira mais completa. O passado [Le passé, França/Itália, 2013], de Asghar Farhadi, Bérénice Bejo, Tahar Rahim, Ali Mosaffa.

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 Outro destaque é Eu, Mamãe e os Meninos, de Guillaume Gallienne, interpretado pelo próprio. Num relato semiautobiográfico, Guillaume é o garoto tratado como menina pela mãe e que, de fato, acredita pertencer ao gênero feminino, até descobrir...bem, veja o filme e você vai entender. A história trata da descoberta da identidade sexual de maneira sutil, bem-humorada e sem recorrer aos clichês do gênero. Roteiro muito bem amarrado e uma interpretação refinada do personagem principal fazem a força deste trabalho, que desbancou nos prêmios César o favoritíssimo O Azul é a Cor Mais Quente. Fez imenso sucesso na França e talvez vá bem no Brasil. Se é que ainda temos paladar para comédias sutis depois da enxurrada de filmes nacionais grosseiros deste mesmo gênero. Eu, mamãe e os meninos [Les garçons et Guillaume, à table!, França/Bélgica, 2013], de Guillaume Gallienne. Elenco: Guillaume Gallienne, Diane Kruger, André Marcon, Françoise Fabian, Nanou Garcia.

Há também o brasileiro Entre Vales, de Philippe Barcinski, história do homem que perde tudo e vai viver em um lixão, ao lado de outros catadores. Num filme em que Barcinski une o habitual cerebralismo de sua direção a uma pegada humanista, o destaque fica para a atuação de Ângelo Antonio. Entre vales [Brasil/Uruguai/Alemanha, 2012], de Philippe Barcinski. Ângelo Antônio, Daniel Hendler.

 Outro dia mesmo comemoramos os 40 anos da Revolução dos Cravos em Portugal e agora nos chega esse simpático Longwave, Nas Ondas da Revolução, filme suíço que relembra aqueles fatos. E o faz de maneira original, pela história de um grupo de jornalistas da rádio suíça que vai para Portugal fazer uma amena reportagem sobre a relação entre os dois países e se vê diante de uma revolução que põe tudo de pernas para o ar. Muito bacana a maneira como mostra a ação política que pôs fim ao salazarismo trazendo também uma reviravolta radical nos costumes. Divertido, crítico e bem estruturado. Longwave - Nas ondas da revolução [Les grandes ondes, Suiça/França/Portugal, 2014], de Lionel Baier.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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