O que traz de novo essa versão atual? Muito pouco, em relação às outras - a não ser no aspecto tecnológico, com efeitos especiais um tanto acima do tom, aplicados ao fatídico retrato. No resto, respeita-se a época em que a história se passa, a soturna Londres do século 19, com suas tavernas escuras e prostitutas decadentes. Tudo cheirando a sordidez e pecado, como não poderia deixar de ser, pois, afinal, uma das muitas implicações da história é a de que acabamos pagando caro por todas as nossas transgressões. Wilde não era um moralista menor, mas sabia do falava, tendo sido condenado a dois anos de prisão, com trabalhos forçados, por "atos imorais com rapazes". O Retrato de Dorian Gray,escrito anos antes, funciona como uma espécie de premonição sobre a consequência dos prazeres carnais.
Na história, Dorian é o jovem provinciano que se muda para Londres depois de herdar uma fortuna. Nos salões mundanos, conhece Lord Wotton, que o adota como discípulo e prega que todos os prazeres carnais devem ser experimentados. Não se deve ter culpa e nem levar os outros seres humanos em grande consideração. Dorian mostra-se aluno melhor do que o mestre. Basil Hallward (Ben Chaplin) faz o seu retrato, que passa a envelhecer e a levar as marcas do vício, enquanto os anos passam e Dorian pinta e borda pelos bordéis do mundo sem que uma única ruga se instale em seu rosto.
Talvez a história ficasse ainda mais forte se Parker lhe desse a atualidade que ela de fato tem. No entanto, ele permanece numa leitura um tanto acadêmica, que nada avança em relação a outras versões. Esse caminho, meio burocrático, toma outra direção no desfecho e então flerta com o trash. A interpretação de Barnes (de As Crônicas de Nárnia) é plana e amorfa; a de Firth é elegante, e não disfarça uma atitude um tanto irônica em relação ao papel.
Inútil dizer que a história, uma síntese da aspiração à eterna juventude e do pacto demoníaco, serve perfeitamente para o nosso tempo de plásticas, botox e superficialidade.