Como acontece com frequência com as obras de arte geradas "para uma causa", muitos dos filmes de esforço de guerra apresentam valor apenas documental. Expressam um momento histórico de convulsão e registram essa época. Não é o caso deste trabalho de Lang que, se não se situa entre as grandes obras do diretor, pode ainda ser visto com todo o prazer. Em que pesem suas origens, é entretenimento de primeira categoria.
A história é a de um caçador inglês, Alan Thorndike (Walter Pidgeon), acusado de tentar assassinar o Füher na Alemanha nazista, em 1939. Ele alega inocência. Na verdade estava postado sobre um monte, para atirar sobre Hitler, mas teve a mira encoberta por um soldado no último instante. Descoberto, alega que estava apenas se exercitando e não faria o disparo. Ninguém acredita. Querem arrancar-lhe a confissão que incriminaria a Inglaterra e forneceria o pretexto para a guerra. Tentam livrar-se dele, mas Alan escapa. Tem início uma perseguição feroz por parte dos nazistas.
O argumento do filme é estimulante, porém um tanto artificial, embora bem imaginado. Lang é um mestre na criação de suspense, a cada cena. Dessa forma, esquecemos essa inverossimilhança de princípio e acabamos por embarcar na história. Lembra, de certa forma, o procedimento de Quentin Tarantino em Bastardos Inglórios, quando imagina um atentado que manda pelos ares todo o alto comando nazista, e Hitler no meio dele. Uma ficção histórica, nada mais nada menos, como esta imaginada por Lang.
Na verdade, o tema do filme responde a uma espécie de wishful thinking da consciência da época. O desejo de que Hitler e o perigo que representava simplesmente desaparecessem do mapa, e se extinguisse a ameaça à vida de todos e à sociedade civilizada. Como isso não acontecia na vida real, a ficção se incumbia de imaginá-lo.
Lang, que era um refugiado do nazismo, cumpria assim a missão "patriótica" ao imaginar o assassinato, mesmo que fracassado, do líder inimigo. E o fazia com os requintes do imenso talento cinematográfico que desenvolvera na Alemanha e levara para os Estados Unidos (depois de rápida passagem pela França), onde o usou em filmes como O Diabo Feito Mulher (com Marlene Dietrich) ou Os Corruptos. Fez com Brecht (outro refugiado) o notável Os Carrascos Também Morrem. São filmes extraordinários, de um verdadeiro autor. O Homem que Quis Matar Hitler parece apenas um momento menor nessa obra. Mas, mesmo em seus momentos menores, autores como Fritz Lang, têm seu interesse.