Foto do(a) blog

Cinema, cultura & afins

Opinião|O Homem Perdido

PUBLICIDADE

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Sem fazer comparações de nível estético, existe um quê de Passageiro: Profissão Repórter neste O Homem Perdido, de Danielle Arbid. A diretora, libanesa radicada na França, faz um filme de andança, que se desloca por Beirute, passa pela Síria e termina em Amã, capital da Jordânia. Um filme que não deixa de ter seus encantos e mistérios.

PUBLICIDADE

É por esses lugares que se desloca o fotógrafo francês Thomas Koré (Melvil Poupaud) e um árabe, Fouad Saleh (Alexander Siddig), que ele toma como auxiliar. Mas torná-lo auxiliar e cicerone não passa de pretexto, pois Thomas mostra curiosidade obsessiva a respeito do passado de Fouad. Passado, aliás, do qual nem o próprio Fouad mostra ter muita consciência. Na verdade, tudo funciona como se um fosse o duplo do outro. Uma curiosa maneira de aproximar, pelo espelho, universos separados por esse mistério comum que é o da humanidade dos diferentes.

Para fazê-lo, Danielle usa uma linguagem cinematográfica muito estimulante, pelo menos na parte inicial do filme. Seus planos, as imagens, parecem longos e rarefeitos. São homens pisando em ambientes desconhecidos, misteriosos ou francamente hostis. Thomas tem um fraco por mulheres e por bordéis. Mas é também um ser da imagem, que se empenha em registrar com sua câmera cada ato sexual de que participa. Ou de que participam outras pessoas. Há isso, também: busca pelo mistério da sexualidade, como se ele pudesse de alguma forma se tornar mais palpável através da lente de uma máquina. Mas há também Fouad, sua estranheza, seu passado. Mistérios aos quais Thomas se entrega tão obstinadamente como se fossem também da ordem da sexualidade. O que não deixa de acontecer, nessa erotização do conhecimento, que passa, aos olhos das autoridades policiais, por uma relação homossexual entre os dois.

O filme tem essas ressonâncias, e que atravessam uma questão central dos tempos modernos, a da identidade, tematizada como nunca no clássico de Antonioni interpretado por Jack Nicholson. Mas, claro, essa aproximação temática é tudo o que os filmes têm de próximo. Mesmo porque a rarefação proposta por Danielle não se resolve nem se aprofunda, como acontece no filme do mestre. Pelo contrário, a seqüência das imagens torna-se repetitiva e muitas vezes confusa, o que acaba atenuando o impacto do filme. Que, mesmo assim, não deixa de ser interessante.

(Caderno 2, 13/6/08)

Publicidade

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.