Bom, mas isso se refere à poesia. Gosto muito também do prosador, por exemplo em O Observador no Escritório, mas sei que não está à altura do poeta.
O mesmo pode ser dito a respeito dos contos. No entanto, no entanto...há algo diferente que se desprende desse O Gerente, justo quando estávamos prontos a achá-lo talvez clássico demais, pode ser que machadiano demais, no sentido tardio. E, então, Drummond nos surpreende.
Se vocês não se lembram, é a história do gerente de banco Samuel, que veio de Sergipe, chegou pobre ao Rio, progrediu, tornou-se funcionário exemplar e bem-sucedido. Acontece que uma sina persegue Samuel: ele está presente em várias ocasiões em que mulheres acabam feridas por algum acidente.
A narrativa é póstuma, ficamos sabendo que o pobre Samuel já morreu, de uma prosaica uremia, e deixou um diário lacônico no qual conta algumas de suas poucas aventuras terrestres. E mais não digo. A não ser que o relato boia numa sublime ambiguidade.
É encantador.