Nome chave? Sim, porque Humberto Teixeira passou a ser conhecido como o Doutor do Baião e esse ritmo, e o samba, formam as duas correntes matrizes da moderna Música Popular Brasileira, de acordo com a nada banal opinião de Gilberto Gil. Quem viu o filme no cinema sabe que o clímax conceitual dessa junção entre samba e baião se cristalizava na figura de João Gilberto, autor de Bim Bom: "É só isso meu baião/E não tem mais nada não/O meu coração pediu assim". Acontece que João não autorizou a presença da música no DVD. "Quatro mil DVDs com 15 segundos de som e 5 segundos de imagens de João tiveram de ser destruídos", conta a produtora do filme e filha de Teixeira, a atriz Denise Dummont.
Mesmo com esse corte forçado, O Homem que Engarrafava Nuvens continua sendo um filmaço. Diretor de títulos como Baile Perfumado e Cartola, Lírio esculpe essa cinebiografia em ritmo e intensidade contagiantes. A pesquisa de imagens, também muito boa, remonta aos tempos da 2ª Guerra Mundial, da Política da Boa Vizinhança e da construção da imagem do Brasil como o paraíso da alegria.
Música que serviu também à exportação. Sucesso no Brasil, o baião espalhou-se pelo mundo e pôde ser visto até no cinema italiano, no filme Anna, de Alberto Lattuada, com a linda Silvana Mangano cantando (e dançando) um "baión" meio abolerado.
Quem comanda o documentário é Denise Dummont, a filha de Humberto que diz ter conhecimento precário do pai, apesar de ter sido criada por ele quando a mãe, Margarida, se separou do marido. O Homem que Engarrafava Nuvens é, assim, a história comovente da filha em busca de um pai. Alguém que foi fundamental para uma época da música e da história cultural do País.