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Cinema, cultura & afins

Opinião|O Doutor do Baião

O título é misterioso e seu personagem, hoje, também o é. O Homem que Engarrafava Nuvens fala de Humberto Teixeira, do qual as novas gerações pouco sabem. Mas, se dissermos que ele foi parceiro de Luiz Gonzaga em um clássico como Asa Branca, tudo começará a ficar mais nítido. E Asa Branca é apenas uma das inúmeras composições do cearense Humberto Teixeira, um dos nomes chave da música popular brasileira, agora devidamente resgatado neste documentário de Lírio Ferreira.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Nome chave? Sim, porque Humberto Teixeira passou a ser conhecido como o Doutor do Baião e esse ritmo, e o samba, formam as duas correntes matrizes da moderna Música Popular Brasileira, de acordo com a nada banal opinião de Gilberto Gil. Quem viu o filme no cinema sabe que o clímax conceitual dessa junção entre samba e baião se cristalizava na figura de João Gilberto, autor de Bim Bom: "É só isso meu baião/E não tem mais nada não/O meu coração pediu assim". Acontece que João não autorizou a presença da música no DVD. "Quatro mil DVDs com 15 segundos de som e 5 segundos de imagens de João tiveram de ser destruídos", conta a produtora do filme e filha de Teixeira, a atriz Denise Dummont.

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Mesmo com esse corte forçado, O Homem que Engarrafava Nuvens continua sendo um filmaço. Diretor de títulos como Baile Perfumado e Cartola, Lírio esculpe essa cinebiografia em ritmo e intensidade contagiantes. A pesquisa de imagens, também muito boa, remonta aos tempos da 2ª Guerra Mundial, da Política da Boa Vizinhança e da construção da imagem do Brasil como o paraíso da alegria.

Música que serviu também à exportação. Sucesso no Brasil, o baião espalhou-se pelo mundo e pôde ser visto até no cinema italiano, no filme Anna, de Alberto Lattuada, com a linda Silvana Mangano cantando (e dançando) um "baión" meio abolerado.

Quem comanda o documentário é Denise Dummont, a filha de Humberto que diz ter conhecimento precário do pai, apesar de ter sido criada por ele quando a mãe, Margarida, se separou do marido. O Homem que Engarrafava Nuvens é, assim, a história comovente da filha em busca de um pai. Alguém que foi fundamental para uma época da música e da história cultural do País.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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