PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Cinema, cultura & afins

Opinião|'Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre': o direito ao aborto

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

No final do nefando ano de 2020, a Argentina registrou uma conquista importante e lá o aborto tornou-se legal. Já no Brasil, o ocupante da presidência comentou a notícia dizendo que, por ele, isso jamais acontecerá no País. Sob essa inspiração, começo 2021 recomendando um filme de nome estranho, que trata do tema - Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre, da diretora Eliza Hittman. Ganhou prêmios nos festivais de Sundance e Berlim. Está disponível na plataforma Google Play. 

PUBLICIDADE

Autumn (Sidnei Flanigan) é uma adolescente de 17 que mora num pequeno condado da Pensilvânia. No começo, ela mesma canta He's Got the Power, do grupo The Exciters. Expressa, no canto um tanto desajeitado, o tanto de sofrimento que pode haver num corpo jovem. Logo ela se descobre grávida. Não se sente com a menor condição de levar adiante a gravidez. Está apenas tateando no começo da vida adulta, trabalha no caixa de uma loja e ninguém a compreende de fato. Vive num mundo de silêncio. Ou de frases lacônicas. Como fazer o aborto é muito difícil em sua cidade (precisa do consentimento dos pais), resolve ir para Nova York realizar o procedimento. Uma prima, Skylar (Talia Ryder) a acompanha na viagem. O filme é o relato dessa jornada. 

A diretora Eliza Hittman opta por um realismo bastante despojado. A câmera acompanha de perto a protagonista, em planos aproximados ou closes. O tom é seco. Nada é feito para chantagear o espectador. Nada tampouco é feito para camuflar o desamparo da personagem, sua solidão e sofrimento. Tudo brota de forma espontânea, sem disfarces, num cinema adulto que não pretende defender tese ou jogar com o sentimentalismo. Pede, igualmente, maturidade de quem o assiste. 

---------------------------

É uma boa dica (acredito) para começar 2021, ano que não promete ser nada melhor que o anterior. A variante mais transmissível do vírus já está entre nós e o suposto governo se mostra mais inoperante e insensível do que nunca. As vacinas já existem e muitos países deram início à imunização, inclusive aqui perto, entre nossos vizinhos na América do Sul. Resta ver por quanto tempo a vacinação ainda será boicotada por aqui. 

Publicidade

Como não custa nada, e não podemos deixar de ter esperança, desejo a todas e todos um ano mais leve e menos estressante. Mais feliz. Será de luta, disso podemos estar certos. 

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.