Acontece que, no caso, o "desfecho" em nada se assemelha à solução de um enigma, de um crime, ou alguém perseguido por um assassino em série que não sabemos se irá se salvar, ou qualquer coisa desse tipo. Trata-se muito mais de um thriller psicológico, que fala de alguém que parece empenhado o tempo todo em torpedear qualquer saída viável para sua vida. E o suspense assim se cria em torno de uma pergunta: será que Lena conseguirá enfim ser feliz? Lena é a personagem de Chiara, bela atriz (nos dois sentidos), filha de Catherine Deneuve e Marcello Mastroianni.
Sua personagem é uma mulher separada, que agora cuida sozinha dos dois filhos e não tem emprego. Claro que a família lhe dará todo o apoio para que ela possa se adaptar à situação, etc. Mas a sua história pessoal sugere uma inadaptação fundamental em relação à vida e isso não parece coisa de fácil solução. E fica claro que Lena não é proprietária única, e talvez nem sócia majoritária de todo o desacerto da sua existência. Basta olhar para o resto da família e ver que, sob o aparente desejo de colaborar, existe muito de crueldade, intriga, fragilidades e mesmo de sabotagem. Lena tem de enfrentar seus filhos, sua mãe carola (Marie-Christine Barrault), seu pai um tanto ausente e com medo da morte (Fred Ulysse) e uma irmã cheia de ironias (Marina Foïs). Há também o ex-marido americano, que some e reaparece (Jean-Marc Barr) de uma hora para outra.
Ninguém é inocente, parece sugerir Honoré. E todas as neuroses familiares se acomodam melhor quando se encontra alguém que as suporte sobre os ombros e passa a ser considerado o único neurótico num conjunto de seres "muito sadios". Apenas ela é quem destoa no ecossistema familiar. É nesse processo que a família consegue aparentar harmonia, jogando toda a dissonância para um dos seus membros. Tudo isso é bem conhecido de psicólogos e psicanalistas. É até mesmo um lugar-comum do mundo psi.
Há, além disso, um achado que faz de