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Opinião|My Way, a vida de Claude François

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Falou em My Way você lembra de Sinatra, certo? Mais ou menos. Se é verdade que o velho Frank celebrizou a canção, em sua versão inglesa, o fato é que ela, na origem, se chama Comme d'Habitude (Como Sempre, Como de Hábito), é francesa e foi composta por um senhor chamado Claude François. É dele a cinebiografia dirigida por Florent Emilio Siri e interpretada por Jérémie Renier. No original se chama Cloclo, que era o apelido carinhoso de François. Dura 2h28, um tanto demais para o alcance de sua proposta. Mas não é mau filme.

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Em especial, porque o personagem bem vale ser lembrado. Aliás, na França, ele é famosíssimo, não apenas pelo grande sucesso que fez em sua época como pelo desfecho trágico de sua vida. No exterior, em particular no Brasil, é menos notado. Vale a pena ser conhecido.

François nasceu no Egito, quando seu pai, engenheiro, trabalhava no Canal de Suez. Com a nacionalização do canal pelo governo Nasser, a família teve de se mandar às pressas. Franceses, eles passaram a ser vistos como antigos opressores do país, agora tomado por um nacionalismo radical, de vertente socialista. Fogem primeiro para Mônaco e, depois, se mudam para a França. Claude desde cedo mostra vocação para a música. Mas, o pai, engenheiro, preferia vê-lo morto a baterista de uma boate - que foi como Claude começou, até descobrir que tinha em sua voz e em seus dotes de palco melhores trunfos à disposição.

O desafio, neste tipo de filme, não é exatamente recontar fatos (de resto bem conhecidos do público), mas interpretá-los de maneira fidedigna. Toda vida humana é um mistério, e na dos ídolos, há um nevoeiro suplementar porque complicada pelos desvios da fama. Siri faz o possível para dar conta da complexidade.

Há também o problema da família. Em entrevista, diz que chegou a um acordo com os herdeiros de François para "não fazer nem uma hagiografia nem uma demolição do ídolo". É uma corda bamba, na qual ele se equilibra como pode. Claude era um fenômeno de energia, mas também tinha distúrbios neuróticos, complexo de inferioridade e mostrava-se manipulador com as mulheres. Tudo está lá.

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Claude François foi um fenômeno dos palcos e do disco. Cantava, dançava e, numa nascente sociedade do espetáculo, sabia manipular fãs em proveito próprio. Era mulherengo e dominado pela mãe, Chouffa (Monica Scattini), de origem italiana e jogadora compulsiva. Siri tenta levar essa biografia em ritmo cinematográfico que a ela se assemelha. Não evita, aqui e ali, o kitsch, mesmo porque o cantor várias vezes foi chamado de brega pelos intelectuais franceses.

Renier é ator versátil. Canta, dança, tem agilidade física e o porte mignon de François. No entanto, é velho demais para se fazer convincente na adolescência do personagem, no Egito. Depois, com o avanço dos anos, o incômodo passa. E a cronologia não vai longe. François morreu aos 39 anos, eletrocutado na banheira. Vida breve, recordações longas, em filme interessante.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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