A discussão é levada através da história de Audrey (Marina Hands), ultra-liberada, que mora no Canadá e vai visitar sua família na França. Lá se encontra com a mãe, Martine (Catherine Deneuve), mulher dominadora e seca como três desertos. Mas há outra figura feminina oculta, a avó de Audrey e mãe de Martine, Louise (Marie-Josée Croze), desaparecida, porém evocada de diversas maneiras. Primeiro pela lembrança das personagens; segundo, quando, fuçando na cozinha, Audrey descobre o diário da avó e procura compreender o que pode ter acontecido à família.
A diretora Julie Lopes Curval conta essa história com sensibilidade e sem inventar muito em termos de linguagem. Faz um filme terno, duro quando necessário, e eficaz. A grande figura não é Audrey, cheia de conflitos, mas sua mãe, a atormentada Martine, muito bem interpretada por Catherine Deneuve. Sua personagem vê-se obrigada a enfrentar algo que deseja reprimido: o passado, no qual foi abandonada, junto com seu irmão, por uma mãe que tinha aspirações modestamente liberais para sua época, mas era tolhida pelo marido. A construção da figura de Louise se dá através de flashbacks, quando então a história recua ao tempo em que Martine era uma menina.
Além de balanço dos ganhos e perdas da condição feminina, o filme investe na linha investigativa - trata-se de descobrir e resolver alguns mistérios envolvendo gente da família, personagens queridos, mas que produziram feridas no passado. Sem grandes novidades, Diário Perdido é um filme sensível e correto.