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Opinião|Mostra de Gostoso 2019: Vermelha e Fendas

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

São Miguel do Gostoso/RN

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Daqui a pouco saem os vencedores da Mostra de Gostoso, em sua sexta edição. Não há júri oficial. Vota o público. E também há um prêmio da imprensa presente ao evento. Após a premiação será exibido o longa Noite Amarela, Ramón Porto Mota, da Paraíba.

Escrevo umas poucas linhas sobre os dois outros longas-metragens apresentados na mostra competitiva - Vermelha, de Getúlio Ribeiro (GO) e Fendas, de Carlos Segundo (RN). 

Vermelha é filmado com os familiares e amigos do diretor. Nem vale a pena falar muito da história, porque esta parece bastante desconjuntada. Mas tem momentos interessantes. Há uma estranheza de base no projeto. Dois homens desenterram o toco de uma árvore destruída por um raio e, com muita dificuldade, o levam para casa. Então o enterram de novo no quintal. Há uma amizade viril entre um homem, Gaúcho, e outro, Pedro, um mecânico de automóveis. Brigam. Mas um sai em defesa do outro quando um grupo o ameaça fisicamente para que pague uma dívida. 

Não adianta continuar descrevendo. Algumas cenas são bem filmadas (a defesa do amigo ao ataque do grupo), outras parecem toscas, como a da luta física entre os amigos. 

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Seria preciso esmiuçar mais o filme, em busca de camadas, que talvez estejam mais no olhar do intérprete do que da própria obra. Mas fica uma dúvida benevolente. O longa venceu a Mostra de Tiradentes. 

Fendas é dirigido por um paulista radicado em Natal. Há uma personagem feminina, chamada Catarina, pesquisadora de física quântica, também recém-chegada em Natal. Uma personagem obviamente em busca de si mesma. 

Pesquisa "espaços sonoros na imagem". Não sei se isso existe, ou se é uma licença poética do diretor. Em todo caso, mantenho a dúvida, pois a física contemporânea chegou a um grau de inventividade que a supera a melhor ficção (isto é um elogio e uma reverência). 

A cientista manda mensagens ao mundo, como, por exemplo, quando está no Forte dos Reis Magos, em Natal, e grita para o oceano que, se alguém a estiver ouvindo, mande um email para catarinapoiesis@gmail.com. Que o leitor espere o filme para saber se o chamado é respondido ou não. 

Fendas tem momentos de inspiração, em especial nos que imerge nesses aspectos mais fantásticos da ciência contemporânea. Mas, como outras obras de ficção - cinematográficas ou não - não consegue aprofundar muito esse tema que exige grande nível de abstração. E uma sequencia importante, quando encontra o ex-marido, um francês, é de molde a decepcionar quem esperava algo de mais desestabilizador. Mais quântico, por assim dizer. 

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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