Gosto das comédias do Leste europeu. Parecem - pelo menos entre as que nos chegam - fazer uma espécie de humor triste, com perdão do oxímoro. Aliás, muitas vezes o humor é triste, auto irônico, autodepreciativo, como o melhor humor judaico, estudado por Freud em seu O Chiste e suas Relações com o Inconscientes.
Mas, deixemos pra lá a psicanálise e concentremo-nos neste Atlas dos Pássaros, de Olmo Omerzu, da República Checa. Um industrial, Ivo Rona, passa mal e é internado. Seus dois filhos e a filha vasculham o celular do homem e se dão conta de que ele empresta às suas amantes nomes de pássaros. Cuco é uma delas.
Já refeito, o homem e a prole cobiçosa descobrem que houve um fabuloso desfalque na empresa. Desconfiam da contadora, Marie, que acaba de tirar férias. Vão atrás da mulher e descobrem que, na meia idade, caiu de paixão por um militar norte-americano, que serve no Afeganistão. Ela o conheceu na internet, num site de encontros.
Convém não adiantar mais nada da trama. Cabe apenas comentar que ela faz um comentário bastante melancólico sobre a alienação do nosso tempo. Quando pensamos ter alcançado o máximo de comunicação possível, universal e instantânea, agora sim é que estamos sozinhos. Como nunca estivemos em toda a história da humanidade.
Esse belo paradoxo é exposto numa trama de estética simples, despojada e eficaz. Os pássaros comparecem não apenas como alcunhas dos amores clandestinos do industrial. Aves de verdade funcionam como uma espécie de coro grego, piando e comentando a ação de tempos em tempos. Uma delas diz algo assim: "O prazer dos ricos é proporcionado pelo sofrimento dos pobres". Outra ave comenta que uma das personagens será velha quando sair da cadeia. "Coitada", resume outra.
A comédia é tristíssima. Por incrível que pareça, diverte.
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