PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Cinema, cultura & afins

Opinião|Mostra 2019: Babenco - Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Sem qualquer sentimentalismo barato, Bárbara Paz acompanhou o processo de morte de seu marido, o cineasta Hector Babenco (1946-2016) em  Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: parou. O filme é uma beleza e foi premiado no Festival de Veneza como melhor documentário sobre cinema. 

PUBLICIDADE

Porque é isso, filme sobre os últimos tempos de Babenco, na luta contra o câncer que acabou por levá-lo, e uma espécie de retrospectiva amorosa de toda a trajetória do diretor argentino radicado há muitíssimos anos no Brasil. Babenco, aliás, à sua maneira desabrida, sempre dizia (e diz no filme) que se sentia um exilado. Os argentinos o consideravam brasileiro, os brasileiros o tinham como argentino. E assim seguiu a vida. Meio outsider, pouco ligado a grupos, chamando-se de anarquista e dizendo o que pensava, mesmo que isso desagradasse as pessoas. 

Fez aqui, e em outros países, seu cinema de muita qualidade: Pixote, Brincando nos Campos do Senhor, Ironweed, Lúcio Flávio - Passageiro da Agonia, Carandiru, Coração Iluminado, até chegar ao último, O Amigo Hindu, em que ele, e a própria doença, são os personagens principais. 

Bárbara consegue estabelecer uma unidade fotográfica de grande efeito, fazendo tudo em preto e branco, das cenas domésticas, e algumas em hospitais e clínicas, até as dos próprios filmes de Babenco, mesmo que estes sejam, na origem, em cores. 

Há esse refinamento, que é acompanhado pela sutileza da montagem, qualidades que fazem do filme esse perfil amoroso, que não deixa de lado o rigor. Imagino que fosse dessa maneira mesmo que Héctor Babenco gostaria de ser retratado. O filme é um ato de amor. E o amor não precisa, como costuma se dizer, ser cego, surdo ou burro. Pode ser rigoroso também. 

Publicidade

No começo desse texto disse que o filme acompanhava um processo de morte. Mas ele é, de fato, um filme sobre a vida, e de como ela é bela e preciosa. Talvez sua sequência mais bonita seja aquela em que Bárbara dança Singin'in the Rain na filmagem para O Amigo Hindu, sob a vista do seu marido, no melhor momento de sua despedida. Mas há também um desfecho inusitado, filmado num país distante, ideia que sai de um chiste do próprio Babenco. Emocionante. 

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.