Luiz Zanin Oricchio
27 de outubro de 2018 | 12h27
O filme espanhol O Silêncio dos Outros fala das atrocidades cometidas durante o regime fascista de Francisco Franco na Espanha. São vistos e ouvidos personagens que ainda buscam justiça por crimes cometidos contra seus parentes, embora Franco tenha morrido em 1975. Mas a busca pela justiça não morre, ao menos entre povos dotados de consciência histórica.
Ao vê-lo, me vi pensando na triste situação em que se encontra o Brasil, quando crimes da ditadura, muito mais recentes, são apagados da memória nacional. A exemplo do que ocorreu na Espanha, aqui houve uma anistia que passou a borracha sobre esses delitos do Estado. Na Espanha, chamou-se de Lei do Esquecimento e serviu de modelo para outros países que saíam de ditaduras, como o próprio Brasil, Chile, Uruguai e Argentina. Nem todos a cumpriram à risca, como o Brasil, em que assassinos continuaram à solta e têm sua memória enaltecida em pleno Congresso Nacional.
O filme mostra como essas leis são tolerantes com criminosos e como só tribunais internacionais conseguem alcançá-los, já que foram perdoados em seus países. Leis de esquecimento produzem um efeito de “naturalização” das atrocidades cometidas e uma espécie de anestesia moral em grande parte da população.
De tal modo que o elogio feito a um torturador, fato que deveria provocar repulsa generalizada nas pessoas, pode passar batido em determinados países como o Brasil.