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Opinião|Mostra 2018: Cafarnaum, o caos da pobreza

Longa foi premiado em Cannes e mostra a história de um garoto sobrevivendo nas ruas de Beirute

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

Para mim, a Mostra de Cinema, que começou um mês atrás (com a coletiva e as cabines), terminou apenas ontem com a sessão de Cafarnaum no Cinesesc. Foi uma sessão extra, de repescagem, porque a última projeção do longa, programada para sábado passado, havia sido cancelada por conta de um vendaval que abateu a rede elétrica da região.

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A sessão de ontem terminou hoje, depois da meia-noite, e o filme da libanesa Nadine Labaki foi longamente aplaudido pelo resistente público lá presente. De fato, Cafarnaum é emocionante. Joga luz sobre a pobreza de forma nada demagógica. Pelo contrário, é duro ao contar a história de um garoto que faz de tudo pelas ruas de Beirute para sobreviver. Inclusive cuidando do filho pequeno de uma imigrante africana detida pela polícia por falta de documentos.

Eu faria um pequeno reparo. No final do filme, há um discurso colocado na boca do protagonista que se torna, francamente, porta-voz da diretora e sua indignação social. A própria Nadine está no elenco, no papel de uma advogada.

Cafarnaum é o nome de uma cidade bíblica, hoje sítio arqueológico em Israel, no qual acredita-se que Jesus pregou. É também um sinônimo de caos - a desordem que vige num ambiente de pobreza, em que necessidades básicas como alimento, educação e moradia não são providas.

Há um quê de Luis Buñuel no longa, que lembra Los Olvidados, clássico do mestre espanhol. A referência está na dureza das relações, inclusive dos pobres entre si, que não hesitam em explorar uns aos outros.

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No entanto, ao contrário de Buñuel, Nadine não deixa de acenar com um "raio de sol", uma fímbria de esperança no desfecho deste filme belo, duro, às vezes implacável, mas que, em seus melhores momentos, atinge um sentido poético da injustiça social que conforma nosso mundo, vasto mundo, que não se chama Raimundo e não vislumbra rimas ou soluções a curto prazo.

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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