Martins era autor de uma monumental História da Inteligência Brasileira e de A Crítica Literária no Brasil, uma história dessa atividade. Teve carreira acadêmica mas se notabilizou como crítico de jornal, os famosos "rodapés".
Fazia crítica a quente, à medida em que os livros saiam e a distinguia do ensaísmo universitário, que trabalha com recuo de tempo considerável e se ocupa do já consagrado.
Como todo crítico de personalidade, errou e acertou muito. Mas é isso que vale: movimentar ideias. Ter uma opinião e estofo para fundamentá-la.
A primeira parte é fácil. Opinão todo mundo tem, ainda mais hoje, pela internet. Já a segunda é mais difícil. Formação é trabalho de uma vida inteira.
E Martins dizia outra coisa: o crítico só existe quando tem um leitor cúmplice, interessado naquele assunto, culto ele próprio e que forma opinião cotejando a sua com a do crítico.
Ninguém precisa concordar com um crítico. Ele está lá para movimentar ideias e não para sedimentar certezas. Com todas as ressalvas que se possam fazer a Martins, ele cumpriu essa função como poucos.
Escrevi uma vez alguma coisa a respeito de Martins e ele me mandou um cartão em agradecimento. Nunca nos conhecemos pessoalmente. Sempre o li com interesse, mesmo discordando. Melhor discordar de quem tem brilho próprio do que concordar com gente amorfa.