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Opinião|Morreu o grande ator francês Jean-Louis Trintignant, aos 91 anos

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A foto o mostra em um dos seus grandes filmes - O Conformista, de Bernardo Bertolucci. Jean-Louis Trintignant se foi hoje, com 91 anos, noticia o cotidiano Libération. 

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Dono de um estilo cool de interpretação, Trintignant participou, em sua longa vida, de cerca de 120 filmes. A começar por E Deus Criou a Mulher, dirigido por Roger Vadim, no qual contracenou com ninguém menos que Brigitte Bardot. 

É provável que seu papel mais conhecido do público seja como o piloto de corridas de Um Homem, uma Mulher, de Claude Lelouch, no qual contracena com Anouk Aimée. A profissão do personagem de Trintignant seria médico, mas, por sua sugestão, trocou-a por piloto de corridas. A ator vinha de uma família de corredores de automóveis e era bem familiarizado com o meio. 

Havia uma rivalidade entre Lelouch e a nouvelle vague, o que o afastou, provavelmente, dos grandes filmes deste que foi um movimento dominante no cinema francês de arte dos anos 1960 e 1970. A exceção foi sua participação em As Corças, de Claude Chabrol, um dos diretores mais abertos da turma nouvelle vague, talentosa mas pouco conhecida pela tolerância com grupos rivais. 

Em compensação, Trintignant foi feliz com diretores de outras nacionalidades. Com o franco-grego Costa-Gavras, fez Z. Na Itália, além do trabalho com Bertolucci, integrou o elenco de outro mestre, Valerio Zurlini, em Verão Violento. E também trabalhou com o maestro da comédia italiana, Dino Risi, em Aquele que Sabe Viver (Il Sorpasso), de Dino Risi. Neste, contracena com outro monstro sagrado, Vittorio Gassman. 

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Com o polonês Krzysztof Kieslowski, está em Rouge, fecho da trilogia das cores da bandeira francesa e das divisas da revolução. Em A Fraternidade É Vermelha, Trintignant vive um velho juiz amargurado e que vive solitário. 

Seu último grande papel é com Michael Haneke em Amor. Seu personagem não suporta ver a mulher (Emmanuelle Riva) sofrendo após ser vitimada por um AVC devastador. 

Se pensarmos bem, seus maiores papéis estão ligados à dor. De viver, de envelhecer, de desaparecer na multidão (como em O Conformista, para mim seu maior trabalho no cinema). Trintignant teve não poucas tragédias em sua vida, em especial a morte de duas de suas filhas. Uma delas, ainda bebê, morta justamente quando ele filmava com Bertolucci. A outra, adulta, assassinada pelo próprio marido. 

Trintignant jamais se refez dessas perdas. Podemos nos consolar que tenha transformado a dor pessoal em arte em seu nível maior. 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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