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Cinema, cultura & afins

Opinião|Morre Danièle Huillet

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

As pessoas que freqüentam o circuito do cinema dito "de arte" não falam em Danièle Huillet e Jean-Marie Straub como se fossem duas pessoas distintas. Se referem sempre ao "casal Huillet-Straub". O casal não compareceu a Veneza, em setembro, para apresentar seu filme mais recente, Quei Loro Incontri, baseado nos Diálogos com Leucó, de Cesare Pavese. Agora se soube o motivo - Danièle estava com câncer ,não se recuperou e morreu nesta segunda-feira. Ela nasceu em 1936 e, em 1959, tornou-se parceira de Jean-Marie Straub na vida e no cinema. Fizeram mais de 20 filmes em conjunto, o mais conhecido dos quais Crônica de Anna Magdalena Bach, teria encantado Glauber Rocha, em pessoa. Entre os meus favoritos da dupla, ganha disparado Gente da Sicília, baseado em Elio Vitorini, escritor italiano catalogado entre os neo-realistas.

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Os Straub-Huillet tinham um carinho especial pelos textos dos autores que adaptavam. Interessavam-se mais pela estrutura do texto, seu corpo e forma do que pelo conteúdo, ou pela historinha que contava. Seu cinema, em especial o desta fase mais recente, era de um rigor absoluto. Atores declamando os textos, com voz empostada, em cenário fixo. Assisti à sessão de Quei Loro Incontri em Veneza e presenciei certa debandada na sala. Ouvi pessoas dizerem que aquilo não era cinema. Engano: era, sim, uma das possibilidades do cinema, entre várias outras.

Gente da Sicília fez sucesso de crítica e entre um público especial na Mostra de Cinema em São Paulo há alguns anos. Operai e Contadini, o trabalho seguinte, também foi apresentado por aqui. Seria importante que, como homenagem, Quei Loro Incontri, último trabalho da dupla, fosse incluído na programação da Mostra deste ano. É um tipo de cinema raro, que precisa de divulgação e compreensão para atingir seu público potencial. Diálogos com Leucó, de Pavese, está traduzido em português por Maurício Santana Dias e ganhou uma ótima edição pela CosacNaify. Narra conversas entre seres mitológicos que falam das contingências básicas da existência humana, a morte entre elas. É poesia e profundidade e nada disso faz mal ao homem.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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