O Festival Latino-americano de São Paulo traz uma obra imperdível para cinéfilos: Memórias do Desenvolvimento, "continuação" do clássico Memórias do Subdesenvolvimento, de Tomás Gutiérrez Alea.
Em 1968, o escritor Edmundo Desnoes teve seu livro Memórias do Subdesenvolvimento transformado em obra-prima pelo cineasta Tomás Gutiérrez Alea. Depois, o cubano Desnoes foi morar nos Estados Unidos e lá deu prosseguimento à sua história, agora batizada com o título de Memórias do Desenvolvimento. Esta parte foi adaptada pelo cineasta Miguel Coyula.
No primeiro filme, o clássico, temos o personagem Sergio (Sergio Corrieri), um intelectual cubano que não compreende muito o sentido da revolução, mas não quer deixar a ilha. O típico homem dividido.
Em Memórias do Desenvolvimento vemos um Sergio maduro, professor em Manhattan. Num filme cheio de efeitos especiais e uso um tanto indiscriminado de colagem das imagens, Coyula procura confrontar a geração de Sergio com a dos jovens cubanos, que não viveram a revolução. É, também, o embate de Sergio e sua posição problemática (nem contra e nem a favor dos barbudos) em sua relação com o mundo do século 21.
Desnoes não gostou muito do resultado. Diz que "em lugar do desenvolvimento do personagem, apresenta cenas curtas, fragmentos dominados mais por truques técnicos e vivências isoladas que pela aprofundamento do personagem". É esse, talvez, a linguagem da juventude, lamenta.
Verdade, há certo exagero. Mas que não tira de Memórias do Desenvolvimento sua pungência e beleza.