"O engraçado é que, na minha estreia com Manoel, ao me convidaram já me previniram: 'aceite, pois é o último filme dele, que está em idade avançada'. Depois disso vieram mais 16!", ri. Leonor disse que cineasta é extremamente rigoroso, que tem um roteiro sempre nas mãos, mas que vai reescrevendo à medida em que a filmagem avança. Gosta que o ator saiba tudo sobre o seu personagem. É um diretor intelectual, literário, muito ligado à palavra. "Trabalhar com ele tem sido um privilégio", admite. Seu filme favorito, entre tantos que fez com o mestre, é Vale Abraão (1993), adaptado de Madame Bovary. "Esse encontro entre Flaubert, a versão para o cinema da autoria de Agustina Bessa-Luis e a direção de Oliveira foi o máximo da minha carreira", diz
Leonor, além de atriz, também exerce cargo político: é diretora adjunta do ICA (Instituto de Cinema e Audiovisual de Portugal), a Ancine de lá. "Fazemos cerca de 10 longas-metragens por ano", conta. Leonor fica contente quando o crítico lhe diz que os filmes portugueses são sempre muito originais e concorda que essa é a sua luta no cargo: "Preservar a nossa diferença cultural". É o que dá graça ao mundo.
Revisão
O cineasta britânico Hugh Hudson, membro do júri do Festival da Amazônia, apresentou em Manaus seu Revolution Revisited 2009 - a "versão do diretor" do seu filme, Revolução. Antes de dar início à sessão no Cine Guarany, ele disse que o filme foi lançado em 1987, contra a sua vontade e a do protagonista, Al Pacino. "Não estava pronto; foi lançado porque os produtores precisavam ganhar dinheiro. Agora voltamos a ele, acrescentamos o que faltava e o damos como terminado". Hudson diz que essa nova versão será distribuída apenas em DVD.
Após a sessão, o épico foi calorosamente aplaudido pela pequena plateia de Manaus. O que se viu de acréscimo? O mais notório foi a narração em off de Al Pacino, com sua voz atual, mais velha e rouca, comentando os acontecimentos da tela. Como alguém que contempla o próprio passado e o comenta à luz do presente. A função principal, no entanto, parece explicativa. E corre em socorro do que faltou provavelmente ao original de 1987 - a contextualização dos anos frenéticos da Revolução Americana, a luta pela indepedência do país, até então uma colônia dos ingleses. Essa "falta de explicação" teria sido a causa principal do fracasso comercial do filme. Imagina-se que as pessoas simplesmente não entendiam o que viam.
E, no entanto, a história é bem simples. Ela conta a saga de vendedor de peles de Nova York, Tom Dobb (Pacino) e seu filho para sobreviver em meio a um tempo convulsionado. Relutante, Dobb acaba sendo obrigado a se engajar na luta, durante a qual conhece a aristocrática e rebelde Daisy McConnahay (Nastassya Kinski). É um belo épico, diga-se o que se quiser, às vezes um tanto acadêmico, porém forte, incisivo e realista. Quando termina a luta, a primeira coisa que acontece é a frustração das promessas feitas. A liberdade e o calote vêm juntos.
O diretor de Carruagens de Fogo disse que ficou satisfeito com essa narrativa posterior de Pacino e que, na ocasião, superestimou a linguagem visual e achou que ela bastaria para contar a história. Estava enganado. "Ele se tornou mais claro agora". Hudson disse também que visitou locações nos arredores de Manaus e poderá filmar por aqui. "Meu próximo filme será ambientado no Camboja e isso pode ser filmado na Amazônia. Antes, porém, tem o desejo de filmar a experiência de George Orwell na Espanha, durante a Guerra Civil.