Nem poderia ser diferente, já que Reese refaz a trajetória de uma personagem real, e atormentada, Cheryl Strayed, cujo livro serve de base ao roteiro. Depois da morte da mãe e de uma vida dissipada entre sexo ocasional e vício em heroína, Cheryl decide empreender uma jornada de reencontro consigo mesma. No caso, uma viagem literalmente dura, pela chamada Pacific Coast Trail, mais de 4 mil quilômetros pela costa oeste americana, incluindo trechos pelo deserto do Mojave e nas montanhas nevadas. A pé, com uma mochila pesada no lombo. E sozinha.
Há uma cena significativa, quando um andarilho mais experiente a aconselha a se desfazer de tudo o que não seja absolutamente indispensável. E assim sua viagem fica mais leve, fácil e agradável. Serve para a vida, em geral. Já pensou que alívio dispensar o que nos entulha a existência e nos pesa nas costas?
"Livre" tem esse lado. Às vezes ressoa nele um pouco do discurso da autoajuda, mas esse detalhe acaba sendo circunstancial. O que importa, mesmo, é o bom trabalho de direção de Vallée e o despojamento com que Reese encara esse desafio diferente em sua carreira. Não se pode ignorar também a forte presença na tela de Laura Dern, que interpreta sua mãe e aparece em flash-backs. É uma figura luminosa, bem-humorada e que faz jus à lembrança que a filha lhe dedica.
O filme leva a marca de Vallée, diretor dos mais interessantes. O canadense tem no currículo filmes como C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor e o Clube de Compras Dallas, um sucesso de estima no Oscar do ano passado. Vallée busca ângulos novos de enxergar as coisas e tem senso acurado da imagem e da duração das cenas. Quando trabalha com uma personagem solitária, às voltas com seus fantasmas num panorama deserto, belo e às vezes hostil, essas qualidades são fundamentais. O filme causa ótima impressão.