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Opinião|Liberalismo e altruísmo, direita e esquerda

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Outro dia houve neste blog uma discussão interessante sobre o liberalismo, as liberdades individuais e os deveres coletivos, que entraram em desuso. Por acaso dei uma olhada no ótimo blog de Jacques Attali, no portal da revista francesa L'Express, e reencontrei esse mesmo debate. Tomei a liberdade de traduzir o texto de Attali, que segue abaixo. Quem quiser ver o original em francês, e dar uma espiada geral no blog, entre por aqui.

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O "liberaltruísmo", por Jacques Attali

"Durante muito tempo o liberalismo político, quer dizer, o combate pelo fortalecimento da liberdade individual e pelos direitos do homem (que constituem a sua expressão mais perfeita), foi percebido como um valor de esquerda. A direita, ela, defendia as vantagens adquiridas e os privilégios.

Depois, veio o marxismo que, com o conceito de classe social, colocou a ênfase sobre o combate coletivo, mas sempre, segundo Marx, com o objetivo de reforçar a liberdade individual. Depois veio o comunismo, que fez do coletivo não mais um meio, como era em Marx, mas um fim em si, jogando a liberdade política no cemitério dos "conceitos burgueses". A direita dela se apoderou, confundindo alegremente o liberalismo político, que visa a autonomia de cada indivíduo, com seu derivado econômico, que visa a autonomia de cada empresa. Eles são, no entanto, bem distintos: um diz respeito à democracia, o outro sobre o mercado.

Hoje, Bertrand Delanoë tem razão de querer reivindicar o ideal liberal para a esquerda, mesmo que seja muito difícil recuperar essa palavra em razão da sua deriva econômica.

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Amanhã, mais ainda que ontem, muitos dos combates serão ainda conduzidos pelos partidos que se reivindicam de esquerda pela defesa das liberdades, em particular a liberdade de trabalho, e pela conquista de liberdades novas, em especial em matéria de costumes.

Mas a esquerda deverá também, mais do que nunca, explicar que a liberdade individual pode conduzir ao desastre coletivo: se a liberdade individual é o único valor reconhecido, se ela não é limitada pelas exigências da liberdade dos outros, ninguém terá qualquer razão para respeitar o menor contrato, nem mesmo ser leal a qualquer coletividade.

A esquerda, se quiser permanecer na vanguarda da mudança social, deverá então se fazer líder dos valores novos, visando a levar em conta para cada um deles as exigências da liberdade do outro, em particular a dos mais pobres e a das gerações futuras. Isso se chama altruísmo, no qual cada um busca sua felicidade na felicidade dos outros.

Uma das grandes questões políticas de amanhã será tornar compatível o liberalismo e o altruísmo, e disso tirar um projeto político. A direita o buscará na generalização da caridade e na promoção de fundações. A esquerda o construirá pelo estabelecimento de novas instituições públicas. À condição de que pare o mais rápido possível com criancices."

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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