De um lado, a trajetória de Fausta pode ser vista como a de uma pessoa que procura superar seus impedimentos internos. E, com muito esforço, tenta abrir-se à vida quando a tendência seria fechar-se como caracol. Por outro, pode se ler como as mudanças de um país que tenta ultrapassar uma fase histórica marcada por violência e corrupção e busca novas possibilidades de futuro. Nos dois casos, trata-se de enfrentar a vida, com seus riscos, sua imponderabilidade e seus encantos.
A diretora Claudia Llosa faz um trabalho que, se por um lado é realista, por outro apóia-se, ainda que de maneira discreta, em traços do realismo mágico. Como se sabe, quando perguntaram ao papa do gênero, Gabriel García Márquez, por que escrevia daquele jeito, narrando histórias incríveis, ele respondeu que se limitava a mostrar as coisas como as havia visto. Um pouco de exagero, sem dúvida, mas o que o escritor queria dizer é que, na América Latina, muito da realidade pode ser simplesmente... surreal. Ou como descrever de outra forma o enfrentamento entre exército regular e guerrilha de esquerda no Peru, com o povo espremido entre os dois e temendo a ambos? Pois é bem essa situação de fundo que define a personalidade de Fausta. Uma personalidade do medo, que precisa usar de artifícios bastante estranhos para defender-se e preservar a virgindade.
Claudia Llosa não deixa de dar outros toques políticos, por exemplo quando a música criada por Fausta é a apropriada pela patroa, uma pianista. A alusão é clara sobre o relacionamento entre a elite peruana e os índios, os "cholos" que, de maneira geral, compõem as classes baixas a ainda sofrem discriminação.
O grande achado de A Teta Assustada é a atriz Magaly Solier, que enche a tela e tem atuação comovente. Pode-se dizer que, aqui e ali, a diretora insiste em certos traços folclorizantes, que devem ter impressionado os europeus. Ainda assim, é um belo filme.
(Caderno 2, 21/8/09)