PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Cinema, cultura & afins

Opinião|Jovens, envelheçam! *

O título aí em cima foi inspirado pelo fato de eu ter ido à Vila Belmiro ver a garotada do Santos e assistido a um recital de Alex, 35 anos. A frase, claro, é de Nelson Rodrigues, conhecedor inigualável do futebol e da alma brasileira.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Para falar a verdade, a presença de Alex foi uma das grandes motivações para eu ter saído de casa e ido ao estádio. Gosto de ver esses velhos mestres em ação. E já fui recompensado algumas vezes, quando, por exemplo, testemunhei Ronaldo, numa tarde inesquecível também na Vila, despachar o Santos com dois gols de antologia. Domingo foi a vez de Alex arrancar um empate para o Coritiba que, àquela altura, já parecia improvável.

PUBLICIDADE

Escrevi "velhos" e me dou conta - mais uma vez - de como é ingrata essa tão invejada profissão de jogador de futebol. Quando vi Ronaldo ele tinha, creio, 30 ou 31 anos. Era já um veterano em fim de carreira. Alex está com 35. Do ponto de vista das pessoas comuns são jovens, claro. Mas, para o futebol, quem está nessa faixa etária encontra-se nada menos do que na reta final. Em termos futebolísticos, estão na terceira idade, na "melhor idade", para usar esse eufemismo hipócrita.

Pois bem, gosto de ver esses craques experientes. Aprendo muito com eles, em especial no estádio, onde podemos segui-los mais continuamente pois a tevê se concentra na bola. Eles sabem dosar a energia. Sabem fazer a bola correr e jogam sem a bola também. Poupam-se para os momentos decisivos. Ditam o ritmo, a cadência do jogo, ainda mais no caso de Alex, um meia pensador, posição de que somos muito carentes: a grande esperança jovem, Paulo Henrique Ganso, não desabrochou. Pelo menos até agora. Depois de um começo mais do que promissor, murchou, talvez pelas contusões.

Alex é "o" maestro. Todas as jogadas ofensivas do Coritiba passam por ele. Desloca-se para os espaços vazios e organiza o time. Não contente, surge na área como elemento surpresa e define os gols com incrível precisão. A bola é sempre muito bem tratada quando passa por seus pés. E, se a bola pune, como diz Muricy Ramalho, ela também retribui. No caso de Alex, nesse domingo iluminado, a recompensa foram os dois gols.

Chegando em casa, vi Vasco x Fluminense e, em sua reestreia, Juninho Pernambucano, 38 anos, foi o nome do jogo. Marcou um golaço na vitória do Vasco por 3 a 1, e fez o passe para André marcar outro. Deu estabilidade a um time de estrutura precária como o do Vasco. No compacto do polo aquático entre Atlético-PR e Corinthians, vi o jogador que melhor entendeu a condição do campo, Paulo Baier, 38 anos. Para falar de mais um desses geniais veteranos, como esquecer que Zé Roberto, no Grêmio, está gastando a bola? Mesmo com a derrota (o Grêmio estava com dois a menos), Zé Roberto, 39 anos, deixou sua marca. Com fôlego de menino, surgiu na frente do goleiro, e deu um toquinho de classe para colocar a menina no fundo da rede. E o que dizer do holandês Seedorf, 37 anos, sem dúvida o principal responsável pela liderança do Botafogo?

Publicidade

Nelson Rodrigues, o mais importante cronista esportivo deste país, usava sua frase de maneira ampla. Falava de artes, literatura, teatro, da vida em si. Poderia usá-la também em relação ao futebol, ele que não perdia um jogo do seu amado Fluminense. Sabia que se o ímpeto da juventude é fundamental, a experiência da idade não é menos importante. Isso vale para times, empresas, governos, jornais, tevê, qualquer ramo da atividade humana: a síntese ideal se faz com sangue jovem e cabelos brancos.

É a boa liga que se espera seja mostrada no grande jogo do futebol brasileiro desta semana, o segundo confronto entre Atlético-MG e Olimpia. O Atlético traz para casa a carga pesada dos dois gols tomados no Paraguai. Mas quem disse que não pode reverter esse mau resultado e conquistar amanhã sua primeira Libertadores da América? Tudo depende, talvez, do bom entrosamento entre a juventude de um Bernard e o comando veterano de um Ronaldinho Gaúcho.

Que o sangue jovem e a experiência mais uma vez se completem e se estimulem mutuamente.

* Coluna publicada na página de Esportes do Estadão

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.