De festival em festival, agora aterrisso no Indie 2020. Mas não com a obrigação de ver tudo. Apenas pinçando um filme lá e outro cá. Com essa peneira descompromissada, pesquei, até agora, três peixes interessantes.
A começar pelo brasileiro Rodantes, de Leandro Lara. Por meio de três histórias paralelas (mas que confluem), o diretor lança o olhar ao país profundo. Brasil estradeiro, da mineração, dos botecos e prostíbulos de beira de estrada, de violência e machismo desenfreado.
Um destaque, aqui, para a atriz Caroline Abras, no papel de Tatiane, uma garota que sai de casa e se aventura pelo interior do país. Interpreta com intensidade e coragem - em especial em cenas difíceis.
As outras duas histórias são de as de um imigrante haitiano, Henry, e de Odair, um rapaz que também tenta um rumo próprio na vida, em condições bastante difíceis.
Sem entrar em maiores detalhes, gostei da pegada do filme. Intenso, com tendência de forçar um pouco o tom em determinadas sequências. Repito: um retrato sem retoques desse Brasil profundo, ainda pouco representado nas telas, pelo menos em proporção à temática urbana. Seres à deriva num país brutal.
Já em registro diferente, há o delicado A Barqueira, da Argentina, dirigido por Sabrina Blanco. Um original perfil de rito de passagem adolescente. Tati tem 14 anos e é filha de um pai barqueiro em Avellaneda. Ela quer aprender o ofício, mas o pai, um tanto estróina, lhe diz que não é coisa para mulheres.
Aqui temos um quadro bastante diferente dos habituais perfis de classe média que nos chegam do país vizinho. O mundo é o da pobreza, de vidas periféricas, com dificuldades para sobreviver, um pouco assoladas pelo alcoolismo, e, acima de tudo, pela falta de perspectivas de futuro. Em tons suaves, acompanhamos a garota Tati (Nicole Rivadero) em sua solitária travessia.
Sanctorum, de Joshua Gil, faz um retrato da violência cotidiana em certas regiões do México. Em uma pequena e isolada cidade, a população vive sob fogo cruzado dos narcotraficantes e do exército, que, supõe-se, está ali para combater os bandidos. Como não há emprego, muitos moradores trabalham para os cartéis no cultivo e colheita de maconha, correndo grandes riscos.
Em filmagem muito elaborada, o diretor escapa ao clichê do brutalismo mexicano pela via um tanto mística e imaginária. Estamos na (dura) realidade, mas esta convive com o mundo mágico dos mitos ancestrais dos povos originários. O visual é muito bonito e intenso.
(Obs. No sistema adotado pelo Indie você só pode ver os filmes em determinados dias e horários. Acesse o site indiefestival.com.br para ver a programação de hoje. O festival vai até dia 11).