Erros individuais podem determinar uma derrota assim como acertos individuais podem levar a uma vitória. Felipe Melo foi um problema, mais que uma solução. Um problema anunciado, e sabido por todo mundo, menos justamente por Dunga. É isso. Mas não é apenas isso.
Há o lado coletivo, que é ainda mais enigmático. O que causa mais pasmo é o fato de o Brasil ter desmoronado quando tomou o gol de empate. Desorganizou-se por completo diante dessa Holanda, que não é nada brilhante como a de 1974 ou a de 1978. Faltou alguém para colocar a bola no chão e tentar reeditar o belo primeiro tempo que o Brasil havia feito. Esse fator psicológico é fundamental. Em 1958, na decisão contra a Suécia, o Brasil tomou o gol logo de início. Didi pegou a bola no fundo do gol, caminhou com ela na mão até o meio de campo, acalmando os outros jogadores. Deu a saída e logo o Brasil empatava e abria caminho para a vitória e para a sua primeira Copa do Mundo.
Não existe um Didi neste seleção que fracassou. Parecia tão sólida e não aguentou o tranco. Para usar uma metáfora do pugilismo, é como um daqueles gigantes com queixo de vidro, que não aguentam um único soco.
Fosse outra a sua têmpera, teria assimilado o gol de empate, nascido de uma falha, e voltado a praticar o jogo que lhe dera a vitória no primeiro tempo. Como uma criança mimada, que não tolera ver seus desejos frustrados, entrou em parafuso.
Dunga segurou um projeto duvidoso por causa dos resultados que obteve até hoje. Agora, que perdeu, esse projeto tornou-se indefensável e anacrônico. Tem de ser repensado em sua filosofia de base, isto é, a tentativa de fazer do futebol brasileiro uma pobre sucursal do futebol europeu. Hora de voltar às origens, talvez. Não pode ficar pior do que está.
(Caderno da Copa, 3/7/10)