Dizer que nada mudou seria negar o óbvio. Aquela festa colorida, cheia de pessoas negras e de outras etnias, contrastava com o #OscarSoWhite de tempos atrás. Houve avanços.
Mas, na hora agá, no momento de operar uma ruptura, a Academia puxa o freio de mão e atribui o prêmio principal a um bonito filme, que toca na questão racial mas o faz de maneira gentil e conciliadora. É assim Green Book - o Guia, vencedor do Oscar principal, além dos de ator (Mahershala Ali) e roteiro original.
O passo ousado seria premiar Roma como melhor filme, quebrando tabus e elegendo uma obra falada em espanhol e mixteca, produzido por uma plataforma em streaming e estrelado por uma indígena mexicana.
Ou optar pelo corrosivo Infiltrado na Klan, inspiradíssimo filme de Spike Lee, que junta as pontas do ancestral racismo norte-americano com o dos dias atuais. O filme bate na tela como um coquetel Molotov e seu poder explosivo pode ter deixado a Academia com um pé atrás.
Ou ainda, ousadia seria colocar tudo de pernas para o ar e eleger melhor filme o block buster Pantera Negra, com seu elenco de técnicos e atores negros e sua versão anti clichê da cultura africana.
O mesmo para Vice, com sua visão ácida e carnavalizada dos bastidores do centro do poder na era de Georges W. Bush.
Tudo isso seria revolução. Que não houve. Mas, atenção: Roma foi bem premiado, assim como Pantera Negra, e Spike Lee descolou seu primeiro Oscar, de roteiro adaptado. Vice foi só lembrado no quesito maquiagem.
Então avanço houve. Mas avanço controlado, aos pouquinhos.
O perfil da Academia é liberal conciliatório. Apoia mudanças, desde que não pisem em seu jardim.
OS VENCEDORES:
. "Green Book, o Guia" - melhor filme, ator coadjuvante (Mahersala Ali), roteiro original
. "Roma" - melhor filme estrangeiro, melhor direção (Alfonso Cuarón), melhor fotografia (Alfonso Cuarón)
. "Bohemian Rhapsody" - melhor ator (Rami Malek), montagem (John Ottman), edição de som, mixagem de som
. "Pantera Negra" - melhor figurino (Ruth Carter), direção de arte (Jay Hart), trilha sonora original (Ludwig Goransson)
. "A Favorita" - melhor atriz (Olívia Colman)
. "Infiltrado na Klan" - melhor roteiro adaptado (Spike Lee, Charlie Watchel, David Rabinowitz, Kevin Willmont)
. "Vice" - melhor maquiagem e penteados (Greg Cannon, Kate Biscoe, Patricia Dehaney)
. "Nasce Uma Estrela" - melhor canção original ("Shallow)
. "Se a Rua Beale Falasse" - melhor atriz coadjuvante (Regina King)
. "O Primeiro Homem" - melhores efeitos especiais (Paul Lambert, Ian Hunter e Tristan Muller)
. "Free Solo" - melhor longa documental
. "Homem Aranha no Aranhaverso" - melhor longa de animação
."Skin" - melhor curta-metragem de ficção
. "Bao" - melhor curta-metragem de animação
. "Absorvendo o Tabu" - melhor curta documental