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Opinião|Gramado 2017. Sinfonia para Ana, a tragédia política da Argentina pelo olhar adolescente

Sinfonia para Ana mostra a agitação estudantil nos anos de chumbo da Argentina. Filme começa com tônus político, depois matizado pelo acento romântico

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

 

GRAMADO - Como definir Sinfonia para Ana senão como uma história de amor adolescente em meio à truculência política? Assim é o filme argentino de Virna Molina e Ernesto Ardito.

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Ana (Isadora Ardito) e Lito estudam num tradicional colégio de Buenos Aires. A Argentina vive a efervescência política do pré-golpe militar de 1976. Perón havia voltado da Europa, agora casado com Isabelita, e morre em 1974. Como vice, Isabelita assume, tutelada pelo "bruxo" Lopez Rega. Enfim, vão se formando as nuvens da direita e a Triple A, aliança anticomunista extremamente violenta, começa a agir.

O filme começa muito bem, usado várias texturas, do super-8 ao 35 mm (em aparência, pelo menos), com as pessoas tentando queimar materiais comprometedores assim que é dado o golpe militar de 1976. Evolui de maneira tensa, e em flashbacks, até um desfecho previsivelmente trágico.

No entanto, abandona o tom de élan político da primeira parte e torna-se mais romântico, e mesmo meloso, na segunda. Abusa da música. Os diretores defenderam esse uso dizendo que a música seria um elemento narrativo e não ilustrativo ou forma de reforçar emoções. Mas não me pareceu assim. E a sobrecarga, não apenas da música, acaba por sabotar o filme na parte final.

No entanto (e há sempre um porém, como dizia o Plínio Marcos), a ideia de colocar essa fase de grande agitação política pelos olhos adolescentes é bastante acertada. Em geral, esse turbilhão de consequências trágicas é retratado pelo ponto de vista adulto. Aqui, ganha-se com essa nova perspectiva.

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No entanto (mais um porém), o filme falha ao trabalhar num tom solene e soturno, não conseguindo passar o frescor da adolescência, tanto no amor como na luta política.

Admiro porém o cinema argentino pelo zelo com que trata o seu passado. Em especial, a ferida aberta pela ditadura, que não cicatriza porque muito recente ainda, com seus atores ainda vivos, ou que permanecem na memória dos vivos.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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