Foto do(a) blog

Cinema, cultura & afins

Opinião|Gigante: o mínimo é o máximo

Gigante é o máximo em economia narrativa. Faz do menos o mais, valorizando gestos, silêncios, subentendidos, pequenas ações que, somadas, dizem tudo o que é preciso sobre os personagens e seus sentimentos. É uma aula para cineastas que acreditam pouco na imagem e compensam essa descrença com excesso de diálogos, fazendo filmes para serem ouvidos e não para serem vistos.

PUBLICIDADE

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Em Gigante é o contrário. Há uma valorização extrema da imagem como recurso narrativo. E essa opção é exacerbada a tal ponto que seu personagem principal, o grandalhão Jara (Horacio Camandule, prêmio de melhor ator em Gramado), observa boa parte do que acontece em seu serviço através da tela de um circuito interno de TV. Ele é vigia de um supermercado na periferia de Montevidéu. É através dessa telinha que vê uma faxineira desastrada derrubar uma pilha de mercadorias e ser repreendida pelo chefe da seção. E é pela telinha mesmo que se apaixona pela moça, Julia (Leonor Svarcas).

PUBLICIDADE

Assim, Gigante fala de uma história de amor, um romance, porém nada convencional. Jara é um brutamontes, faz hora extra como segurança em uma boate, mas parece muito boa gente. Seria uma alma delicada num corpo de gladiador - atleta, ainda que obeso. Julia é uma moça meio sem graça como tantas outras. Mas aos olhos de Jara é nada menos que uma deusa. E assim mesmo é a paixão, uma arte do visual mas que não passa necessariamente pela objetividade com que se enxerga o objeto amado.

Dirigido por Adrián Biniez, Gigante é mais um exemplar do raro cinema que se faz no Uruguai. Raro, nos dois sentidos do termo, porque a produção do país vizinho não se caracteriza pela quantidade. Mas os poucos títulos que aqui chegam, como Whisky, de Pablo Stoll e Juan Pablo Rebella, encantam por essas características - a delicadeza, a trama lacunar, que convida o espectador a participar com sua imaginação, a opção pelos pequenos personagens que, em tese, nada teriam de notável.

Com poucos elementos, esses filmes constroem sua trama com toda a liberdade, sem se preocuparem em dizer tudo, a mostrar tudo, a explicar e a determinar todos os atos e seus encadeamentos lógicos e necessários. A vida vai um pouco ao sabor do acaso e dele também um filme como Gigante tira a sua força, e encanto.

(Caderno 2, 21/8/09)

Publicidade

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.