É verdade que, enquanto jogou, o Atlético encantou mais que o Fluminense. Bem montado por Cuca, com um Ronaldinho Gaúcho redivivo e o talento da revelação do ano, Bernard, o Atlético parecia a reencarnação do bom e velho futebol brasileiro, aquele que une arte e eficácia. Mas depois vimos que estávamos longe disso. E o Galo foi se distanciando, a ponto de ser superado até mesmo pelo Grêmio, do professor Luxemburgo. A segunda colocação do campeonato ainda está em aberto, e essa disputa entre mineiros e gaúchos é um dos últimos focos de interesse de uma competição que já tem seu vencedor.
Os amantes do futebol-arte talvez preferissem o Atlético campeão, mas e daí? Se o Fluminense não encanta, o Corinthians, campeão do ano passado, também não encantou, assim como o Flamengo, vencedor em 2009. Foram campeões indiscutíveis e fizeram a alegria de suas torcidas. Mas deixaram os apreciadores do futebol um pouco decepcionados. A pergunta que se faz, a esta altura, é a seguinte: poderia ser diferente? Até que poderia, haja vista a ótima campanha inicial do Atlético. Mas o que prevalece, no atual futebol brasileiro, é o cálculo, o pragmatismo, a capacidade de se mostrar regular, sem grandes oscilações. E, nesse ponto, o Fluminense foi absoluto. Basta olhar os números, mais uma vez.
Claro que o futebol é um ente indefinido, que muda segundo a perspectiva de quem o vê. Daí as discussões intermináveis. Daí, também, a infinidade de donos da verdade, gente que se acha o último copo d'água gelada no deserto quando o assunto é tática, técnica e previsões de resultados. Por isso, convém lembrar que o Flu é campeão porque contou com alguns jogadores em estado de graça, e nos momentos certos. Não teria vencido com três rodadas de antecedência não fossem as atuações de Fred e Diego Cavalieri, com certeza. Ou a velocidade de Wellington Nem. Ou seja, o Fluminense não é essa entidade puramente coletiva (como se supunha fosse o Corinthians de 2011), da qual seria impossível eleger destaques individuais. O time tem seus craques, e eles foram fundamentais. Ainda assim, faltou aquele futebol sedutor, que faz a delícia da própria torcida e empolga mesmo a dos outros times.
Quantos desses times sedutores surgiram nos anos mais recentes? O Santos de 2002 e do primeiro semestre de 2010, o Cruzeiro de 2003, e quantos mais? É muito pouco para um futebol que gostava de se definir como o melhor do mundo.
* Coluna publicada no Caderno de Esportes do Estadão