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Cinema, cultura & afins

Opinião|Filmes do 11 de setembro

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Se 11 de setembro de 2001 mudou a história do mundo, não se pode dizer que tenha mudado a história do cinema. Qualquer que seja a avaliação posterior de um fato histórico como o ataque às Torres Gêmeas e ao Pentágono, ela não poderá incluir entre seus subprodutos o aparecimento de grandes filmes. Alguns, no entanto, são bem razoáveis.

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Voo United 93, de Paul Greengrass, talvez seja o mais bem sucedido da safra. Como não se sabe exatamente aquilo que se passou no interior do avião desviado para Washington, o diretor ficou livre para presumir. E assim inventou o que lhe parece ser a verdade provável: que um grupo de passageiros, heroicamente, tentou dominar o grupo de sequestradores, houve luta e o avião acabou caindo antes de atingir seu alvo. Fatos verdadeiros ou inventados, o filme passa tensão numa situação-limite.

Já a parte referente à queda das Torres Gêmeas é muito melhor documentado que o do voo final rumo a Washington. As cenas trágicas talvez tenham se tornado as imagens mais recorrentes do século. O que significa que se fica menos livre para criar situações que venham a contrariar fatos já sabidos. No entanto, ainda existe espaço para ficção. E este é ocupado por Oliver Stone na figura do bombeiro vivido por Nicolas Cage. É curioso ver, também, que houve talvez um equívoco de tom, ditado pela emoção. Stone, de maneira geral tão crítico em relação ao seu país, neste filme adere a um discurso patriótico e bastante chegado ao melodrama. Torna-se um cineasta vulgar - o que ele não é.

O tom mais crítico, e politizado, fica por conta de Michael Moore com seu Fahrenheit 11/09. Aqui, para ele, o importante não é tanto o ataque da Al Qaeda, mas, tirando fantasias como a relação de Bush com Bin Laden, registra bem como o ex-presidente instrumentalizou o fato, levando os Estados Unidos à invasão ao Iraque e a uma relação unilateral em relação ao resto do mundo. Diga-se o que se disser de Moore - e, de fato, seus "pecados" cinematográficos são inúmeros - mas é dos poucos diretores, senão o único, a manter viva a veia crítica nos Estados Unidos.

Outro filme interessante leva o título direto de 11 de setembro. São vários episódios, dirigidos por cineastas famosos, tentando reproduzir o impacto dos atentados em diversos países do mundo. Entre os diretores, o israelense Amos Gitai, o norte-americano Sean Penn, o francês Claude Lelouch e o japonês Shohei Imamura. O do britânico Ken Loach talvez seja o mais original. Ele lembra de outro 11 de setembro, bem anterior ao de 2001 e que também foi uma catástrofe para o seu povo. Dia 11 de setembro de 1973, o governo de Allende era derrubado e começava a ditadura de Pinochet no Chile.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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