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Opinião|Festival do Recife -- mais filmes

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

RECIFE - Fiquei de comentar os candidatos aos troféus do festival pernambucano e o faço rapidamente. O documentário local O Coco, a Roda, O Pneu e o Farol não peca apenas pelo título, difícil de guardar. Buscando as raízes do coco, a diretora Mariana Fortes entrevista vários mestres e mestras do ritmo nordestino. São pessoas encantadoras, o que dá fôlego ao filme. Que, no entanto, carece de uma estrutura mais rigorosa, uma espinha dorsal, um foco que o tornaria mais orgânico. Quando os personagens são muito bons, há dificuldades na mesa de montagem. O que cortar? Como cortar? Mas são perguntadas que, não respondidas a contento, trazem prejuízo à versão final.

Já o mineiro 5 Frações de uma Quase História parece um trabalho pensado desde o seu início. São cinco tramas, dirigidas cada qual por um diretor da produtora Camisa Listrada, de Belo Horizonte. Mas, como disse um deles, Guilherme Fiúza, não havia o desejo de fazer um filme de episódios, e sim um todo articulado, em que os episódios se soldassem no conjunto. Daí o recurso de fazer as histórias dialogar entre si, mas não à maneira de um Short Cuts, por exemplo, em que é o todo que dá sentido a cada uma das partes tiradas da literatura de Raymond Carver por Robert Altman. Em 5 Frações cada episódio toca o outro de leve e a estrutura revela inteligência cinematográfica. Não suficiente, no entanto, para dar a organicidade ao todo. É um filme que não consegue, de fato, disfarçar sua origem fragmentária. História por história, e seguindo os estilos diversos de direção em jogo, compõem um painel de uma Belo Horizonte dinâmica, conflitiva, quase em transe, como toda cidade grande. Existe algo de histérico em algumas passagens e outro tanto de insuficiente em outras. Não é mau filme, mas tem problemas quando pensado como um todo. Tomados isoladamente, há que se cair na velha constatação para filmes desse tipo, e dizer que alguns episódios são melhores do que os outros.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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